Este domingo é um dia para se enrolar na bandeira do Brasil e torcer, como se faz nas finais de Copa do Mundo. Chegar à final do Oscar com três indicações é motivo para celebrar o sucesso de Ainda Estou Aqui e seu significado político.
O filme ganhou o mundo com a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro e isso é mais importante do que levar uma das estatuetas.
Claro que o ideal é ver Fernandinha levantar o Oscar de melhor atriz e o filme ser considerado o melhor de língua não inglesa, já que ser o melhor de todos é um sonho alto demais.
Nossa Kelly Matos está em Los Angeles para contar tudo pelo Rádio Gaúcha e já nos mostrou uma foto com Fernanda e os bastidores da grande festa do cinema. Eu aqui prometi ir trabalhar de camiseta amarela — não a da CBF, mas uma de algodão que se vende para turistas nas lojas de souvenir do Rio.
Foi no Rio que passei as férias, num apartamento alugado no Leblon, a poucas quadras de onde morou Rubens Paiva até ser preso e morto por agentes da ditadura militar.
O filme, creio que todo mundo já sabe, é sobre Eunice Paiva, a mulher valente que lutou para provar o assassinato do marido e para criar os cinco filhos daquele casamento feliz.
Nas férias, fiz questão de ir a três lugares simbólicos do filme — o quarto, a praia do Leblon com o morro Dois Irmãos ao fundo, já era o cenário de todos os dias.
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Primeiro estive na Delfim Moreira, 80, esquina com a Almirante Pereira Guimarães. Ali só resta, à frente, a praia que a família frequentava e onde Eunice nadava com braçadas vigorosas.
No lugar da casa branca foi construído um edifício de luxo, o Saint Paul de Vence. Até a ruazinha lateral está descaracterizada e a produção precisou gravar na Cupertino Durão. Fiz fotos na esquina com a Ataulfo de Paiva.
A casa, que é um personagem do filme, fica na Urca, com vista para o Pão de Açúcar. Minha filha e eu fomos até lá. Caminhamos pelo bairro que é um dos meus preferidos no Rio e chegamos à casa dos Paiva do filme — e que, segundo Marcelo Rubens Paiva, autor do livro Ainda Estou Aqui e filho do casal — ficou idêntica à da família, por dentro e por fora. As irmãs mais velhas confirmam.
Como se sai de um roteiro como esse? Com um aperto no peito. Porque Ainda Estou Aqui não é obra de ficção como a maioria dos concorrentes. Tem muito em comum com A Semente do Fruto Proibido, que também fala de repressão, violência do Estado e família destruída pelo horror.
Torcer pelo Oscar é só uma forma de falar. Ninguém está em campo. O jogo já foi jogado, os vencedores já foram escolhidos, mas estarei no sofá esta noite de alma lavada por ver que Walter Salles fez um filme poderoso e que, repito o que já disse na coluna, deveria ser exibido em todas as escolas do Brasil.