Ouvinte de rádio desde a primeira infância, sempre me intrigou o conceito de tempo bom, principalmente nos verões de estiagem. Nós que vivíamos na roça — e da roça — clamávamos por uma chuva capaz de salvar a lavoura de milho, a horta e o poço cavado. Meu pai ligava o rádio par a ouvir o Correspondente Renner e escutava apreensivo a previsão de “tempo bom”. E se perguntava em voz alta:
— Bom para quem?
Bom era quando o locutor previa “tempo instável, com chuva”.
Naquele tempo, o rádio era via de mão única, bem diferente de hoje, em que podemos expor as dores de quem planta quando o Cleo Kuhn informa que vem aí uma sequência de dias ensolarados. Bom para quem está na praia, esclarecemos, mas péssimo para quem está vendo a lavoura de soja murchar e a água escassear para os animais.
É legítimo que quem alugou uma casinha na praia para passar as férias com os filhos antes do recomeço das aulas queira dias de sol sem o vento nordestão. Como é legítimo que os agricultores não concordem em chamar de “tempo bom”esses dias incandescentes, em que até os animais parecem tristes.
Nada que dependa da nossa torcida, mas alguma coisa ainda podemos fazer para que as mudanças climáticas não acabem com o conceito de tempo bom como sinônimo de chuva na medida certa.
Naqueles anos 1970, quando pedíamos a Deus por uma chuva, assistíamos sem imaginar as consequências a chegada dos tratores de esteira arrancando a mata pela raiz para plantar até quase dentro dos arroios. Aquilo era vendido como progresso — e estávamos nos tempos do milagre econômico.
Meu pai não acreditou e seguiu plantando pinheiros, que é como chamamos as araucárias. Agora sabemos que aquele progresso teve um custo elevado, na forma de mais estiagens alternadas com chuvaradas que levam a matéria orgânica do solo e exigem mais e mais adubo e calcário.
Ainda podemos reduzir os efeitos da estiagem investindo em irrigação, mas para evitar o agravamento dos problemas climáticos é preciso plantar árvores, refazer a mata ciliar e dar o destino correto aos resíduos sólidos. Se não tiver efeito imediato, pelo menos será uma dádiva às futuras gerações.