No almoço em que o presidente da Assembleia, Adolfo Brito (PP), apresentou o balanço de sua gestão à frente da Assembleia, o assunto mais comentado não foi o conjunto de propostas para alavancar a irrigação no Rio Grande do Sul. Foram as patacoadas do vereador Ramiro Rosário (Novo), que chamou de “canalha” e “juiz de bosta” o magistrado que concedeu liminar suspendendo a votação de projeto que reestrutura a direção do Dmae.
Ramiro pediu desculpas em privado, o que irritou ainda mais os colegas do juiz ofendido. Depois, se desculpou publicamente em entrevista ao jornalista Rodrigo Lopes e disse que usou "expressões indevidas no calor da sessão". Atribuiu seu descontrole (acredite) ao "escalonamento das tensões entre o Poder Judiciário e os demais poderes da República há anos”.
Ora, a tensão a que ele se refere tem como foco o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, malvado favorito de bolsonaristas como Ramiro. O juiz Gustavo Borsa Antonello não tem nada a ver com as broncas de Ramiro com o STF. Diante de uma ação com pedido de liminar, Antonello proferiu a decisão que lhe pareceu mais correta à luz da legislação atual, mas virou “petista”, “comunista” e "lulista" por retardar a votação de um projeto.
Entidades de classe dos magistrados repudiaram a violência verbal de Ramiro e pediram punição para o vereador na Comissão de Ética, por ter ameaçado o magistrado.
A prefeitura teria todas as condições de derrubar a liminar, usando bons argumentos jurídicos. Se não conseguir, o prefeito Sebastião Melo deve agradecer o atraso a Ramiro, que agiu como um moleque e agora quer que o Judiciário o chame para sentar e conversar “sobre as intervenções do Judiciário nos poderes Executivo e Legislativo, desde a Porto Alegre até a União”.
Por que a cúpula do Judiciário desperdiçaria seu tempo com um vereador que perdeu a compostura e despreza a instituição?