Em nome do apreço que disse ter pela democracia, o presidente Lula deveria suspender imediatamente a ida da embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira, à posse do ditador Nicolás Maduro, reeleito presidente em uma eleição fraudulenta. Como se já não houvesse motivos suficientes para boicotar a posse de Maduro, a prisão da líder oposicionista Maria Corina Machado, na tarde desta quinta-feira (9), foi a gota d’água.
Maria Corina foi presa depois de participar de uma manifestação contra a posse de Maduro em Caracas. Um dia antes, o genro de Edmundo González, o candidato de oposição na eleição presidencial, foi sequestrado quando levava os filhos à escola. São atos criminosos que nenhum democrata pode avalizar.
Maduro é um ditador sanguinário. Um inepto que afundou a Venezuela e provocou o maior êxodo da América Latina — e do mundo em tempos de paz. Fome, miséria, desemprego, violência política e falta de liberdade empurraram milhões de venezuelanos para fora do país. Milhares vieram para o Brasil em busca de abrigo e tiveram de mudar de profissão para sobreviver, parte deles fazendo trabalhos pesados que os brasileiros não querem mais fazer.
Maduro é a continuação de um projeto de poder de Hugo Chávez, que dominou o Judiciário, as Forças Armadas e o Legislativo. Aniquilou a oposição, prendendo ou declarando inelegíveis seus adversários. É o caso de Maria Corina, que teria sido eleita se tivesse podido concorrer. Impedida de ser candidata, ela apoiou Edmundo González, que se declara vencedor — e foi mesmo. Do contrário, Maduro teria mostrado as atas de votação, que até hoje ninguém viu.
Lula acertou quando não reconheceu a vitória de Maduro, mas errou ao designar a embaixadora para representar o Brasil na posse. Ter um representante na fila das autoridades significa reconhecer, na prática, que o ditador tem o direito de continuar sentado na cadeira de presidente. Por linhas tortas, legitima a fraude eleitoral.
Alguém precisa lembrar a Lula que a democracia não é relativa, como ele disse numa entrevista à Rádio Gaúcha, quando questionado sobre a Venezuela. Não há que se relativizar uma ditadura, seja de esquerda ou de direita. Faltam poucas horas, mas ainda está em tempo de o presidente brasileiro mostrar respeito à democracia e deixar que fique vazia a cadeira que seria ocupada pela embaixadora.