Com honrosas exceções, estas três semanas não ficarão na memória do eleitor como alguma disputa da qual possamos nos orgulhar. Santa Maria pode ser considerada a exceção. Comparada a Canoas, Caxias do Sul, Pelotas e Porto Alegre, a corrida em Santa Maria foi a menos belicosa. Teve ataques, críticas políticas, mas nenhum golpe abaixo da cintura, tanto na parte visível da campanha como na invisível. Valdeci Oliveira (PT) e Rodrigo Decimo (PSDB) se comportaram como dois cavalheiros e os militantes seguiram na mesma toada.
É preciso separar o que foi ao ar no horário eleitoral, os debates e entrevistas do que correu no submundo das redes sociais, das denúncias apócrifas, das distorções para confundir o eleitor. Canoas é, de longe, a cidade em que o nível foi ao fundo do poço, com tantas denúncias que o eleitor irá às urnas com mais informações sobre os problemas pretéritos dos candidatos do que sobre o plano de futuro para uma cidade arrasada pela enchente.
Em Pelotas as acusações correram soltas de parte a parte. Temendo um atentado contra a sua vida, nos últimos dias o ex-prefeito Fernando Marroni, candidato do PT, passou a circular com dois seguranças armados. As campanhas dos dois candidatos vasculharam o passado do adversário e não pouparam esforços para desqualificá-lo. Marciano Perondi (PL), que no primeiro turno se mostrou relativamente pacífico, transformou-se com a entrada do prefeito de Bagé, Divaldo Lara, na campanha.
Nem Caxias, onde o prefeito Adiló Didomenico (PSDB) é um político da velha guarda, escapou da radicalização. As campanhas de Adiló e de Maurício Scalco (PL) foram pródigas em jogar lama no ventilador — não na voz dos candidatos, mas de testas de ferro encarregados de fazer o serviço sujo.
Em Porto Alegre, os últimos dias foram marcados por ataques mútuos, na tentativa de Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT) de desconstruir a imagem um do outro. Entre um ataque e outro, criou-se uma espécie de concurso de paródias de músicas conhecidas, com letras criativas para atacar o (a) adversário (a). Foram tantas as denúncias à Justiça Eleitoral que o juiz da propaganda, José Ricardo Sanhudo, precisou fazer horas extras.
ALIÁS
Por tudo o que se viu na campanha do segundo turno, esta será uma eleição de rejeições: milhares de eleitores votarão em um candidato não por considerá-lo melhor, mas para evitar que o outro ganhe. Esse cenário exigirá que os vencedores desarmem os espíritos e, a partir de segunda-feira, assumam que terão de governar para todos.
Saída pela cozinha
O nível de tensão entre os candidatos que disputam o segundo turno em Pelotas é tal que na quinta-feira Fernando Marroni pediu para sair pela cozinha, na sede da RBS TV, depois de uma entrevista ao repórter Frederico Feijó, para não encontrar o adversário Marciano Perondi (PL).
Os dos participaram de um único debate no segundo turno, porque Perondi se recusou a ficar frente à frente com Marroni.