Mais de 40 anos depois da primeira vez, voltei ao icônico Laje de Pedra, o hotel nascido da ousadia do empresário Péricles Druck, na beira do Vale do Quilombo, em Canela. Com um esboço de Oscar Niemeyer e projeto do arquiteto Edgar Graeff, o Laje de Pedra, inaugurado em 1978, marcou época. Ali nasceu o Mercosul e daquele encontro restam as fotos dos presidentes Fernando Collor, Carlos Menen, Andrés Rodriguez e Alberto Lacalle.
Mas não é destas figuras que quero falar numa manhã de primavera que parece outono. É das memórias que fazem do Laje um lugar tão especial. Foi lá que, aos 21 anos e estudante de Jornalismo, apertei a mão do grande Rubem Braga, do simpático Fernando Sabino, do espirituoso Guilhermino César e do nosso poeta maior, Mario Quintana.
Naquela mesma tarde de outubro ganhei de Ziraldo o autógrafo mais querido da minha coleção. Eu era a última da fila e Ziraldo escreveu com sua conhecida irreverência: “Enfim sós… no meio de tanta gente. Que pena!”.
Naquele dia, o Grupo Habitasul levou os finalistas do Prêmio Habitasul de Revelação Literária, um concurso de contos, crônicas, poesia e literatura infantil que fez história. Eu era uma das cinco finalistas e achava que perderia para um gurizinho de texto impecável, chamado Ricardo Freire. Perdemos, Ricardo, eu e os outros dois aspirantes a cronistas para o senhor Heraclides Santa Helena, com um texto que, hoje reconheço, era melhor do que os nossos.
Ricardo Freire era uma promessa que se cumpriu. Hoje escreve os melhores textos sobre viagens e certamente escreverá sobre o novo Laje de Pedra que vem aí e cujo projeto de revitalização conheci na sexta-feira com as colegas Denise Cruz, Kelly Matos e Cláudia Praetzel.
Antes é preciso explicar que aquele Laje de Pedra faliu. Ficou anos abandonado até que um grupo de visionários identificou seu potencial e comprou o prédio deteriorado para transformá-lo no primeiro hotel com a bandeira Kempinski no Brasil. O Kempinski Laje de Pedra Hotel e Residences vai unir a sofisticação da grife alemã com os cenários cinematográficos da Serra gaúcha.
Um desses visionários é José Paim, misto de empresário e de poeta, que nos conduziu pela história do velho Laje e falou por mais de três horas dos planos de apresentar as belezas naturais dos Campos de Cima da Serra aos futuros hóspedes que, espera, virão de todos os cantos do mundo.
Enquanto o hotel está em obras, o amplo espaço com vista para o Vale do Quilombo virou o restaurante 1835, especializado em carnes, que atrai clientes dispostos a esperar até cinco horas na fila por uma mesa.
O Kempinski chega ao Brasil pelas mãos desse grupo de investidores dispostos a valorizar a arte e a cultura, uma das melhores heranças que Druck deixou para os amantes das letras, da fotografia, da música e da pintura.