Desde que o Rio Taquari engoliu suas margens, transformando Muçum e Roca Sales em escombros, os governos estadual e federal têm garantido que não faltarão recursos para reconstruir as duas cidades e socorrer os atingidos em Lajeado, Santa Tereza, Cruzeiro do Sul e outras com estragos menores. Há uma comoção nacional com o que aconteceu no Rio Grande do Sul, mas notas de solidariedade não bastam para reconstruir cidades arrasadas.
Nós, jornalistas, temos desde o primeiro dia dedicado nossos esforços para mostrar as dimensões da tragédia, mobilizar pessoas, cobrar dos governos e buscar soluções. Seguiremos fazendo isso e usando nossos espaços para garantir que o tempo não desmobilize a corrente de solidariedade que se formou para doar alimentos, colchões, cobertores, roupas, calçados.
Na próxima etapa, minha sugestão é a doação de conhecimento, material de construção, móveis e utensílios. Para além da prometida liberação de recursos públicos, será preciso reconstruir uma por uma as casas destruídas. Se cada arquiteto do Rio Grande do Sul se dispuser a projetar, como voluntário, uma casa na medida das necessidades e possibilidades de cada um, será o primeiro passo. Se cada engenheiro civil registrado no Crea-RS ou afiliado ao Sindicato dos Engenheiros se oferecer para acompanhar uma obra, outra etapa será vencida. Se cada construtora que tem expertise em fazer obras rápidas oferecer um pedaço do seu lucro na forma de construção, Muçum e Roca Sales poderão, em pouco tempo, retomar a normalidade possível.
Prontas as casas (ou edifícios que possam abrigar mais moradores a uma distância segura do Taquari), será preciso mobiliar e equipar as moradias com o mínimo de conforto. Não podemos esquecer que milhares de pessoas perderam tudo e vão precisar de fogão, geladeira, TV, pratos, xícaras, copos, talheres, roupas de cama, toalhas e até simples panos de prato. Há que reconstruir as escolas, equipá-las (alô, fornecedores de equipamentos que mostram seus produtos nos congressos da Famurs). As crianças vão precisar de cadernos, canetas, lápis, computadores. As bibliotecas terão de começar do zero.
Estamos falando de gente que perdeu tudo o que tinha e até o emprego, porque as empresas para as quais trabalhavam também foram atingidas. A maioria não conseguiu salvar nem os documentos, mas esses o governo tem condições de garantir que refaçam a papelada sem custos.
Pode parecer ingenuidade sugerir esse mutirão que inclui a doação de conhecimento, mas em um Estado em que tanto se fala de inovação, seria uma forma diferente de inovar. Isso inclui psicólogos, médicos, advogados e todos os profissionais liberais que podem encontrar um jeito de discutir, como algumas entidades já vêm fazendo, uma forma de colaborar.
De minha parte, assumo o compromisso pessoal e profissional de não esquecer essas pessoas que ficaram órfãs, perderam parentes de diferentes graus e amigos queridos. O papel do jornalismo nos próximos meses será garantir que as promessas sejam cumpridas, mostrar as necessidades e mobilizar. Nunca a máxima “cada um dá o que tem” foi tão apropriada às necessidades dos moradores do Vale do Taquari. O que você tem para doar? Se for só dinheiro, há uma conta aberta pelo governo do Estado na campanha SOS Rio Grande do Sul. A chave do Pix é o CNPJ 92.958.800/0001-38.