
A primeira viagem do presidente Lula a Cuba no terceiro mandato teve repercussão pálida dentro e fora do Brasil. A caminho da assembleia-geral da ONU, em Nova York, Lula foi à ilha para participar da reunião de um grupo de países chamado G77+China. Mas, quando discursou, o auditório estava praticamente vazio, talvez porque falte um amálgama entre países de tão diferentes tamanhos e estágios de desenvolvimento.
A passagem de Lula pelo país, que nos seus dois mandatos anteriores recebeu atenção e dinheiro do BNDES para o financiamento do porto de Mariel, foi bem diferente daquelas do tempo em que os irmãos Fidel e Raúl Castro mandavam e desmandavam na ilha. Embora tenha visitado Raúl e se encontrado com o atual presidente, Miguel Díaz-Canel, a viagem pode ser definida como “contida”.
Por causa das dívidas que Cuba tem com o Brasil e não consegue pagar porque vive uma eterna crise desde que a União Soviética naufragou, Lula não tem muito o que oferecer à ilha, a não ser palavras contra o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos.
O investimento do Brasil em Mariel, por meio da Odebrecht, nasceu de uma expectativa de retomada das relações com os Estados Unidos, fruto da distensão iniciada por Barack Obama. Havia então uma promessa de que aquela seria a melhor entrada para o Caribe e países como o Brasil só teriam a ganhar.
Foi isso o que o então governador Tarso Genro ouviu quando visitou o porto em construção, em 2012, mas a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos mudou tudo.
O porto hoje opera com 50% de ociosidade, a Odebrecht quebrou com a Lava-Jato e o BNDES ficou com o mico. Até por isso, o discurso de Lula no G77 foi mais genérico e focou no aquecimento global e na dívida histórica dos países ricos com o meio ambiente.