Faz meio século que o ex-senador Pedro Simon (MDB) construiu uma casa de veraneio em Rainha do Mar e fez dela uma espécie de extensão de seus gabinetes. Todos os verões, políticos do MDB iam visitá-lo, especialmente no fim de janeiro, para cumprimentar pelo aniversário.
Nesta segunda-feira (31), Simon completa 92 anos. Há dois, passa a maior parte do tempo isolado na casa de Rainha do Mar, com a mulher, Yvete, e dois cachorrinhos. Saiu poucas vezes para compromissos em Porto Alegre, uma delas para o pior de todos: enterrar um filho, Tomaz, 43 anos.
É lá, na varanda de frente para o mar, que Simon continua recebendo os companheiros do MDB que vão em busca de conselhos ou de um dedo de prosa. Segue lúcido, falante e com a memória intacta, pronto a contar histórias da luta contra a ditadura e da redemocratização.
Foi na casa de Rainha do Mar que na quinta-feira (27) Simon recebeu o repórter Mateus Frazão, do jornal Pioneiro, para uma conversa que se estendeu por duas horas.
O ex-senador, que está sem mandato desde 2015, falou de seu desencanto com os rumos da política, do medo de um segundo turno entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro, de sua preferência por uma chapa Sergio-Moro e Simone Tebet. Só não disse quem é seu preferido para concorrer governador do Rio Grande.
Leia algumas frases de Simon na entrevista:
Sobre o envolvimento na política:
" Desde 64 até a Constituinte (1988), a nossa luta foi uma só. O inimigo é a ditadura, vamos lutar contra eles, não tinha o que se discutir. Se discutiu o movimento, qual a forma. Mas hoje é uma interrogação, não se sabe o que fazer."
Sobre estar arrependido de ter votado em branco na eleição presidencial de 2018:
"Não sei te responder."
Alternativas para a eleição de 2022:
"Temos que encontrar alternativa que não fique entre Lula e Bolsonaro. Tem dois candidatos, a Simone Tebet, que o MDB lançou, e o Moro. Acho que são dois grandes nomes."
Sobre a aliança entre MDB e PSDB no Estado:
"Acho que no Rio Grande do Sul o MDB e o PSDB têm muitas coisas favoráveis, quer dizer, o PSDB surgiu do MDB. Então, acho que essa caminhada é um entendimento que é respeitado."
Sobre José Ivo Sartori:
"Grande nome, foi um ótimo governador e ótimo prefeito de Caxias. O tempo do Governo Sartori foi a melhor época de Caxias."
Sobre Eduardo Leite:
"Está continuando muitas coisas do Sartori e sinceramente, acho que está indo bem."
Sobre a morte de Tancredo Neves:
" Foi uma sacanagem que Deus fez para nós, tirar o Tancredo. Ele era o homem. O que foi pior: morreu o Tancredo e entrou o (José) Sarney (ex-presidente), que era presidente da Arena. Foi uma composição que fizemos na hora, eu era contra, mas era para ganhar. Não passava na cabeça de ninguém que o Tancredo ia morrer.
Sobre sua trajetória:
"Sempre fiz o que minha consciência me disse para fazer. Não tenho nada, quando minha mulher morreu (em 1985) e meu filho (em 1984), passei tudo que eu tinha para os meus filhos. Hoje eu tenho essa casa e um apartamento, não tenho mais nada. Oportunidade de ganhar dinheiro eu tive muitas. Não tenho carro. Vivo da aposentadoria, mas me sinto bem. Acho importante a luta que travei, contra a corrupção."