O jornalista Bruno Pancot colabora com a colunista Rosane de Oliveira
Aos 91 anos, o ex-governador e ex-senador Pedro Simon foi homenageado nesta segunda-feira (22) na Assembleia pela articulação que manteve o Legislativo gaúcho aberto mesmo após o Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968. Em um Teatro Dante Barone ocupado por dezenas de dirigentes do MDB, autoridades e admiradores, Simon narrou episódios de violência e repressão do regime militar contra opositores.
— Brizola tinha a luta armada, os partidos de oposição estavam apavorados, a violência existia, a tortura existia. Exigimos diretas já, Assembleia Constituinte, fim da tortura, anistia e eleições diretas — lembrou Simon.
Simon era deputado estadual na época do AI-5. Participou da costura que manteve a Assembleia aberta enquanto os outros parlamentos estaduais eram fechados pela ditadura. O ex-senador conta que os deputados se reuniram e levaram um documento para o então presidente Arthur da Costa e Silva pedindo que a Assembleia pudesse funcionar. Costa e Silva, que era primo do presidente do Legislativo gaúcho, Valdir Lopes, assentiu.
Entre os eventos mais marcantes do período, o ex-senador recorda que a Assembleia promoveu um congresso com as oposições de todo o país para discutir o caminho para a redemocratização. O debate reuniu nomes como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Miguel Arraes e culminou com as Diretas Já.
— Se prendeu, se matou, se cassou. Logo depois veio o AI-2, AI-3, AI-4 e AI-5. As coisas foram se deteriorando. Foi uma página incrível da história da Assembleia, um gesto significativo — recordou.
Em um discurso permeado por memórias, críticas à corrupção e elogios à Lava-Jato, o ex-senador criticou o ex-presidente Lula pelo escândalo da Petrobras e o atual presidente, Jair Bolsonaro, por não ter dado autonomia ao ex-ministro Sergio Moro para continuar a luta contra a corrupção:
— Todo mundo está solto. O presidente da Câmara (Arthur Lira) tem uma série de coisas gravíssimas a respeito dele. Nos plenários da Câmara e do Senado, os processos de abertura, no sentido de permitir que as denúncias sejam aceitas, não andam. É esse o momento que estamos vivendo.
Simon encerrou o evento, chamado "Concerto da Democracia". A homenagem aos deputados da 42ª Legislatura (1967 e 1971) foi promovida pelo deputado estadual Tiago Simon (MDB), filho do ex-senador, em conjunto com o presidente da Assembleia, Gabriel Souza (MDB). Entre as autoridades que acompanharam a cerimônia, estivam o ex-governador José Ivo Sartori, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, o deputado federal Alceu Moreira e o ex-ministro Carlos Marun.
— Vejo no meu país um grande futuro, falo do fundo do coração. Essa Assembleia ficou aberta e lutou pela democracia. Acho que é uma bela história o que estamos fazendo — concluiu.