A decisão da Mesa Diretora da Câmara de Porto Alegre de abrir uma licitação para a compra de carteiras de couro personalizadas, noticiada pela coluna na quinta-feira (29), surpreendeu vereadores e provocou indignação em diferentes partidos. Pelo menos oito parlamentares disseram à coluna que não querem a carteira, seja por entender que não faz sentido gastar dinheiro público com supérfluo, seja por entender que é de péssimo gosto e daria margem a piadas, como a de que o objetivo é dar “carteiraço”.
A primeira a se manifestar foi a vereadora Lourdes Sprenger (MDB). Pela manhã, Lourdes disse que foi surpreendida com a decisão e que não concorda com a compra das carteiras que, além do brasão da Câmara, têm a palavra VEREADOR impressa sobre uma tarja dourada no modelo previsto no edital. Lourdes definiu o objeto como “cafona”.
— Se algum vereador quiser a carteira de couro, que pague do seu próprio bolso — opinou a vereadora.
No início da tarde, para reforçar, encaminhou cópia do crachá de identificação, que já existe, e lembrou que os vereadores também recebem cartões de visita.
Ramiro Rosário (PSDB) usou o Twitter para manifestar sua contrariedade. No perfil, escreveu: “Sobre a polêmica das carteiras de couro para os vereadores de Porto Alegre, eu acho que tão ruim quanto o custo é o mau gosto delas. Chinelagem! É coisa de bagaceiro andar por aí carregando o Brasão da República como se fosse um distintivo para botar banca de importante.”
Líder da bancada do Novo, Felipe Camozzato reforçou o coro dos descontente:
_ Decisão de mau gosto, e que facilmente podia ser substituída por um cartão de visita ou crachá de plástico. Sem necessidade esse carteirão que mais parece de brinquedo, mas que infelizmente não é brincadeira.
A colega de bancada Mari Pimentel reforçou:
— A criação da carteira do Legislativo não é justificável sob nenhum aspecto. Cria um custo sem qualquer necessidade. Devemos tratar o dinheiro público com seriedade, visando a racionalização do seu gasto. Qual o ganho para o cidadão com a confecção dessas carteiras? Não precisamos desse tipo de documento para exercermos nossa função.
Líder do PSOL e da oposição, Pedro Ruas foi taxativo:
— Sou contra, até porque é óbvio que isso está longe de ser qualquer prioridade. Não reuni a bancada de oposição sobre o tema, até porque temos mais o que discutir, mas sei de vários vereadores da esquerda que também são contra essa "proposta".
E completou:
— A solução é simples: basta que os interessados paguem, do seu bolso, as carteiras que tanto almejam. Gosto não se discute, como se diz por aí, mas cada um deve pagar o que quer ter e usar, sem custos para o erário.
Kaká D’Ávila (PSDB) diz que ficou sabendo da licitação pela coluna e não quer saber de carteira personalizada:
— É um absurdo. Em nenhum momento fomos consultados.
Outro que diz ter sido surpreendido é Cassiá Carpes (PP):
— Isso até parece brincadeira. A gente elege a Mesa e ninguém dá satisfação. Estamos nos posicionando contra a compra. Era só o que falta, vereador ter de dar carteiraço. A maioria é conhecida, não precisa de carteira.
A vereadora Mônica Leal (PP) optou pelo textão no Facebook para se manifestar. Em seu perfil, publicou uma foto do crachá de identificação e escreveu:
“Recursos públicos devem ser aplicados em ações de interesse público. O gasto de dinheiro do erário fora desta definição constitui o chamado “desvio de finalidade", ou seja, aplicação de recursos em ações que não traduzem objetivos de interesse da sociedade. Carteiras de couro, tipo porta-documentos, são na verdade, adornos, e isso não pode ser comprado com dinheiro público, porque não há como justificar tal gasto como de interesse da comunidade. Aliás, a aplicação de recursos públicos com desvio de finalidade é motivo de apontamento pelo Tribunal de Contas do Estado, que determina a devolução dos valores ao erário.
Outra coisa são os cartões de identificação de plástico, tipo crachá, de baixo custo. Esses sim foram levados para pauta e aprovados em reunião da Mesa Diretora da Câmara, porque é adequado que a mesma forneça esse tipo item de identificação dos Vereadores, especialmente aos que exercem os mandatos pela primeira vez.”