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O batismo mais conhecido do presidente Jair Bolsonaro ocorreu em 12 de maio de 2018, nas águas do Rio Jordão, em Israel. De túnica branca, Bolsonaro foi batizado pelo Pastor Everaldo, aquele candidato que tanto usou o nome de Deus em vão que acabou se encrencando na Operação Placebo, acusado de envolvimento nas mesmas falcatruas que que transformaram o governador afastado do Rio, Wilson Witzel, num pária. Everaldo também batizou Witzel, mas essa é outra história.
Perto de completar a primeira metade do seu mandato, Bolsonaro está sendo batizado pelos líderes do centrão em uma religião à qual seus antecessores foram obrigados a se converter: o pragmatismo. A conversão explica alguns fenômenos dos últimos dias, como a desistência em indicar um ministro “terrivelmente evangélico” para a vaga de Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal, provocando uma onda de ira nas redes bolsonaristas.
O escolhido, Kassio Nunes Marques, com quem Bolsonaro teve um jantar amistoso na casa do ex-presidente do STF Dias Toffoli, no sábado, tem a bênção de Ciro Nogueira, o todo-poderoso presidente do PP.
Toffoli, para quem não lembra, era persona non grata nas hostes bolsonaristas por ter sido indicado ministro por Lula com o aval de José Dirceu, de quem fora assessor. Sinal dos tempos, entre os convidados do jantar estava o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, espécie de muso do pragmatismo, pela desenvoltura com que desliza nos círculos do poder.
Nessa religião, a túnica branca é substituída pelo terno e gravata, mas nas reuniões preparatórias pode-se usar roupa informal e até camiseta de time de futebol. O pragmatismo não exige os sacrifícios das religiões convencionais. Os convertidos precisam, na maioria das vezes, renunciar ao discurso de campanha, esquecer o que disseram dos antigos adversários, agora companheiros de jantares, e pagar uma espécie de dízimo em cargos.
O centrão já passou dos 30 anos. Quase todos os seus líderes fundadores já saíram de cena, por morte ou aposentadoria política, mas a renovação é permanente. Os mais antigos ensinam aos mais jovens que um presidente pode se eleger execrando os métodos da seita, mas, cedo ou tarde, render-se-á, como diria Michel Temer.
Bolsonaro, assim como seu antípoda, o ex-presidente Lula, elegeu-se prometendo fazer diferente, mas capitulou depois de constatar que sem uma aliança com o centrão não conseguirá aprovar reformas nem medidas capazes de alavancar seu projeto de reeleição.
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