CORREÇÃO: a delação de Joesley Batista não foi anulada. A Procuradoria Geral da República pediu a rescisão do acordo, mas os advogados do empresário defenderam a sua manutenção. Enquanto o STF não der a palavra final, o acordo segue válido. A informação incorreta permaneceu publicada entre 12h de 17 de março e as 20h25min de 18 de março.
Nascida de um embrião que prometia ser apenas a investigação das atividades suspeitas de quatro doleiros, a Operação Lava-Jato completa quatro anos neste sábado como uma hidra de múltiplas cabeças, uma porção de filhotes e perspectiva de vida longa. Pelos resultados obtidos até aqui em matéria de recuperação de dinheiro público desviado e de identificação de esquemas criminosos, não seria exagero dizer que são 400 anos em 4, parafraseando o slogan de Juscelino Kubitschek.
Os números são superlativos. Se as condenações ainda parecem seletivas, é porque boa parte dos corruptos identificados na investigação está protegida pelo foro privilegiado. A investigação dos quatro doleiros levou ao esquema bilionário de desvio de recursos na Petrobras e abriu a caixa de Pandora: já foram identificados focos infecciosos de corrupção em empresas como Eletronuclear, Ministério do Planejamento e Caixa Econômica Federal e em megaprojetos como a Ferrovia Norte-Sul, em Goiás, e a Usina de Belo Monte, no Pará.
Para mostrar que não veio ao mundo com a missão de abafar a Lava-Jato, como suspeitavam seus adversários dentro e fora do Ministério Público Federal, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge (foto), fez questão de prestigiar o encontro que celebrou em Porto Alegre os quatro anos da operação. Durante dois dias, procuradores das três instâncias do MPF fizeram um inventário da Lava-Jato.
Na sexta-feira, apresentaram o balanço e acenaram com novas emoções. Pela manhã, Raquel Dodge garantiu que a Lava-Jato será fortalecida e que o instituto da delação premiada não será abandonado. Prometeu novidades para os próximos dias e justificou a cautela nos acordos com o argumento de que, para obter os benefícios da colaboração, os delatores terão de apresentar mais do que declarações sobre supostos atos ilícitos.
Ficou claro que ela quer evitar a repetição de fiascos como a delação de Wesley e Joesley Batista, fechada às pressas pelo procurador Rodrigo Janot – a Procuradoria-Geral da República chegou a pedir a rescisão do acordo e agora aguarda decisão do STF, já que os advogados do empresário defenderam a manutenção do trato.
À tarde, em entrevista conjunta, os procuradores fizeram uma defesa veemente da prisão de condenados em segunda instância, repetindo em uníssono que é uma forma de combater a impunidade. O temor é de que, se for aberta uma fresta para impedir a prisão do ex-presidente Lula, condenado pelo TRF4 e aguardando o julgamento de um recurso, outros réus acabem sendo beneficiados e a população perca a confiança que depositou na Lava-Jato.
Os procuradores citaram fatos e números do balanço, cujos detalhes podem ser conferidos na reportagem de Fábio Schaffner, na página 14, e adiantaram que novas fases vêm aí _ especialmente no Rio e em São Paulo. O desmantelamento de várias quadrilhas que atuavam no Rio sob a batuta do ex-governador Sérgio Cabral e do ex-deputado Eduardo Cunha é uma das provas mais eloquentes de que a Lava-Jato não é, como dizem setores do PT, uma maquinação destinada a impedir o ex-presidente Lula de retornar ao poder.
Sem foro privilegiado, Cabral e Cunha, as duas principais estrelas do PMDB do Rio, estão presos em Curitiba. Graças à Lava-Jato, pela primeira vez os corruptores estão pagando por comprar políticos com recursos obtidos no superfaturamento de contratos. Em 187 acordos de delação premiada, feitos por pessoas físicas, e 11 de leniência, firmados pelas empresas, foi acertada a devolução de nada menos do que R$ 12 bilhões. Desse total, R$ 1,9 bilhão já retornaram aos cofres públicos.