A denúncia contra figuras de proa do PMDB acusadas de envolvimento no esquema de corrupção da Transpetro não é a última flecha do bambuzal do procurador Rodrigo Janot, que deixa o cargo em 20 dias. No disparo da sexta-feira, Janot atingiu os homens que se consideravam a salvo desde que a Polícia Federal emitiu um relatório dizendo que as gravações e os fatos relatados por Sergio Machado não justificavam os benefícios de um acordo de delação premiada.
O procurador, no entanto, denunciou o próprio Machado e outros caciques do PMDB por envolvimento em um esquema criminoso que teria movimentado R$ 100 milhões na Transpetro: os senadores Romero Jucá (RR), aquele que na gravação falava na necessidade de estancar a sangria da Lava-Jato, Renan Calheiros (AL), Valdir Raupp (RO) e Garibaldi Alves (RN). Entraram na lista, também, o ex-presidente José Sarney (AP) e três empresários que seriam os corruptores.
Como Janot está de saída do cargo de chefe do Ministério Público Federal, os denunciados fizeram pouco-caso. Pessoalmente ou por meio de advogados, a reação foi semelhante: a denúncia é política, o procurador está em fim de carreira, a acusação não para em pé.
Quem vai dizer se para ou não é a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal. Diferentemente do presidente Michel Temer, que escapou do primeiro processo porque conseguiu votos suficientes na Câmara, o destino dos denunciados está nas mãos dos ministros. Sozinhas, as gravações e declarações de Machado podem ser frágeis, mas os investigadores trabalharam com outros elementos e cruzaram as versões de mais de um delator.
O último ato de Janot à frente da Procuradoria-Geral da República deverá ser a nova denúncia contra o presidente Michel Temer e seus homens de confiança, vitaminada pela delação do doleiro Lúcio Funaro. Prevista para o início da semana, a flecha derradeira deverá ter na Câmara o mesmo destino da anterior – o arquivo –, mas vai expor o presidente a um novo foco de desgaste.
ALIÁS
Apesar da naturalidade com que Michel Temer trata uma acusação de corrupção contra seus ministros, a situação de Blairo Maggi (PP) poderá ficar insustentável. A delação do ex-governador Silval Barbosa é nitroglicerina para Blairo e boa parte da elite política de Mato Grosso.