Definido pelo juiz Sergio Moro como apenas mais uma etapa do processo, o interrogatório do ex-presidente Lula, nesta quarta-feira (9), em Curitiba, é um divisor de águas na Operação Lava-Jato. Para o bem e para o mal, esse encontro entre o réu e o juiz terá repercussão agora e na eleição de 2018. Para concorrer, Lula (ou qualquer outro candidato) não poderá ter condenação em segunda instância.
Lula e o PT transformaram o interrogatório em um ato político, estimulando os simpatizantes a tomarem Curitiba. A justificativa é que Moro politizou primeiro e que a cada ação corresponde uma reação. Moro pediu aos apoiadores da Lava-Jato que fiquem em casa, para evitar confrontos. Depois de dizer que não se pode criar clima de jogo de futebol, acrescentou que, se for para fazer essa comparação, que seja um jogo de torcida única.
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Até a última hora, a defesa de Lula tentou adiar o depoimento, argumentando falta de tempo para estudar todos os documentos. Foi derrotada no Tribunal Federal da 4ª Região nessa pretensão e também no pedido de usar equipe própria para gravar o depoimento. A demanda é descabida. Por que haveria de se usar um sistema diferente de gravação daquele usado há 10 anos na Justiça Federal de Curitiba e adotado com todos os outros réus? As más notícias para o ex-presidente não pararam por aí. No final da tarde veio a público a informação de que, na sexta-feira, em Brasília, o juiz federal Ricardo Leite determinou a suspensão das atividades do Instituto Lula. O juiz alegou ter encontrado indícios de que o instituto é "local de encontro para perpetração de ilícitos criminais".
Não será difícil para o ex-presidente provar que não é dono do triplex do Guarujá, foco do interrogatório desta quarta. De fato, o imóvel continua em nome da OAS. Foi listado pela empresa entre seus bens, em uma operação de emissão de debêntures. Os depoimentos dos delatores convergem para um ponto: o apartamento foi reformado para a família de Lula, mas não chegou a ser entregue porque no meio do caminho surgiu a Lava-Jato. O próprio Lula admite que chegou a estudar a compra do imóvel, mas acabou desistindo. A pergunta é: terá o juiz Sergio Moro alguma prova na manga que incrimine o réu? Sem provas, por mais fortes que sejam os indícios, uma condenação cairá na segunda instância.