Os senadores passarão a quinta-feira discutindo o relatório do senador Anastasia (PSDB-MG), favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas o ibope será próximo de zero. Não há como concorrer com um julgamento mais eletrizante, o do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Do outro lado da Praça dos Três Poderes, 11 ministros vão decidir não apenas o destino de um dos homens mais polêmicos do país, mas de uma nação. O Supremo vai decidir se Cunha, réu na Operação Lava-Jato, pode ou não assumir a Presidência da República interinamente se Michel Temer virar presidente e, por algum motivo, tiver de se afastar do país.
Os ministros não estão julgando o mérito dos crimes de que o presidente da Câmara é acusado. Vão julgar apenas uma ação da Rede Sustentabilidade, que questiona a possibilidade de um réu vir a assumir a Presidência, já que, com a provável posse de Temer, ele passa a ser o primeiro na linha de sucessão.
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A Rede pediu uma liminar, mas o relator, ministro Marco Aurélio Mello, não quis segurar sozinho a batata quente e pediu ao presidente Ricardo Lewandowski que a questão fosse decidida pelo plenário.
Os ministros têm três opções: afastar Cunha da presidência da Câmara, o que automaticamente o impede de assumir o Planalto, mantê-lo no comando da Câmara, com todas as prerrogativas, ou adotar uma solução salomônica. O que seria esse meio-termo? Deixar Cunha na presidência da Câmara, mas encontrar na lei uma forma de impedir que ele sente na cadeira de Temer, por ser réu em uma ação penal.
É improvável que o Supremo opte pelo afastamento de Cunha da presidência da Câmara. A Constituição não dá ao Judiciário instrumentos para afastar o chefe de outro poder. Se fosse tão simples, o Supremo já poderia ter julgado o pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Informações extraoficiais dão conta de que o ministro Teori Zavascki não colocou o tema em pauta antes da votação do impeachment na Câmara porque sabia que não haveria votos suficientes para afastar Cunha antes do julgamento no processo em que ele é acusado de corrupção. Esse papel cabe à Comissão de Ética, hoje uma marionete nas mãos do presidenteda Câmara.