Uma das mais reconhecidas e atuantes ONGs de Porto Alegre, o SOMOS – Comunicação, Saúde e Sexualidade completa 15 anos neste sábado (10/12). Para marcar a data, o grupo lançou um manifesto reafirmando sua missão, além de espalhar pelas ruas da cidade os cartazes reproduzidos aí.
Criado pelo artista visual SANDRO KA, o pôster é um caça-palavra em que constam 15 verbos. É um jogo, uma brincadeira para desafiar o olhar do público e provocá-lo com as ações sugeridas: questionar, inventar, provocar, desejar, viver, brincar, sonhar, construir, lutar, erotizar, gozar, resistir, sexualizar, ousar, existir. Legal, né?
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Leia o manifesto:
15 anos depois, ainda SOMOS
Aniversários costumam inspirar festas e comemorações, mas também podem constituir momentos de reflexão e de denúncia. Na data em que completa 15 anos, o SOMOS?–?Comunicação, Saúde e Sexualidade opta pela segunda perspectiva a fim de reafirmar a sua missão: trabalhar por uma sociedade plural e democrática por meio da afirmação de direitos.
Não havia outro caminho. Quinze anos depois, reconhecemos avanços importantes na garantia e na promoção dos direitos humanos, fruto de mobilização da sociedade civil organizada. Trata-se de uma experiência muito recente na história brasileira, tornada possível apenas com o fim da ditadura e a promulgação da Constituição de 1988. No entanto, esses avanços se mostraram insuficientes, a ponto de a democracia ter sido atacada, o que representa imenso retrocesso. É como se o Brasil tivesse despencado aos anos 1980, visto a atual fragilidade das instituições e a ameaça crescente à cidadania conquistada. Quinze anos depois, seguem ameaçados os direitos de populações historicamente excluídas e estigmatizadas, em especial LGBTs e pessoas vivendo com HIV/aids.
A situação é tão grave e ameaçadora, e as perspectivas são tão limitadas, que poderiam desmobilizar o SOMOS. Não seria uma derrota isolada, se lembrarmos a desarticulação e até mesmo o encerramento verificados em várias ONGs de atuação similar. No entanto, o momento exige resistência, comprometimento e fortalecimento. Ainda há muito a fazer. Ainda SOMOS.
O nome SOMOS parte de um verbo. Quinze anos depois, queremos ampliar as possibilidades. Queremos questionar, inventar, provocar, desejar, viver, brincar, sonhar, construir, lutar, erotizar, gozar, resistir, sexualizar, ousar, existir. Quinze verbos que, neste dezembro de 2016, estampam cartazes que espalhamos pelas ruas de Porto Alegre para celebrar nossa existência e, ao mesmo tempo, convocar as pessoas a experimentarem novas conjugações. Porque SOMOS.
Quando completamos 15 anos, reafirmamos também nossos valores: a inquietude, a criatividade e o espírito de inovação que movem nossos desejos; os ideais de solidariedade, sustentabilidade e comprometimento que acompanham nossa caminhada; e a tão urgente defesa da democracia. E para aprofundar este entendimento que embasa nossas ações, denunciamos a persistência de problemas crônicos que pautam nossos dias, como questões a serem debatidas e enfrentadas cotidianamente:
· Insuficiência de ações governamentais em relação às temáticas de DST/aids, gênero e sexualidade.
· Ameaça de desmantelamento do SUS.
· Falta de recursos para financiamento de ações de enfrentamento a DST/aids.
· Dificuldades das ONGs em manter a sustentabilidade de projetos e ações.
· Recrudescimento de pensamento conservador, repressivo e preconceituoso.
· Crescimento de discursos de ódio (classe, religião, gênero, raça, orientação sexual etc.)
· Não criminalização da homolesbotransfobia.
· Exclusão de temáticas de gênero e sexualidade nos planos nacional, estaduais e municipais de educação.
· Persistência do patriarcado/machismo.
· Fragilidade da democracia brasileira.
· Esgotamento dos modelos de representação e de controle do Estado.
· Enfraquecimento dos movimentos sociais.
Ao completar 15 anos, o SOMOS convida a todos e todas para seguirmos na luta por uma sociedade mais humana, em que haja garantias de direitos, de igualdade e de respeito. Porque ainda SOMOS sujeitos da nossa história. Porque a vida deve sempre vencer.
Porto Alegre, 10 de dezembro de 2016.