
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Nesta quarta-feira, 16 de abril, comemora-se o Dia Mundial da Voz. O médico que criou a data, hoje celebrada globalmente, é o gaúcho Nédio Steffen, ex-chefe do Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital São Lucas PUCRS e ex-professor da universidade. A coluna conversou com Steffen sobre os cuidados com a voz.

Como surgiu a ideia de se criar a data?
De 1998 para 1999, eu era presidente da Sociedade Brasileira de Laringologia e Voz. Eu pensava: qual legado vou deixar? No ano anterior, a Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia havia feito uma campanha nacional voltada para a surdez, abordando a importância do diagnóstico precoce, da capacidade de o indivíduo ser recuperado socialmente em casos de surdez. Pensei: por que não fazer uma campanha voltada para a rouquidão? O Brasil era o segundo país do mundo em incidência de câncer de laringe. Tínhamos em média 15 mil novos casos por ano. Mais de 70% desses pacientes morriam devido ao estágio avançado com que chegavam para tratamento. Câncer de laringe é altamente curável, mais de 95% de chance sendo diagnosticado em estágio inicial.
Quais os sintomas?
É a alteração de voz. Começa especialmente em homens com mais de 40 anos, que fumam e bebem. É o momento de fazermos o diagnóstico. É nesse momento que podemos propor o tratamento e a cura. Com a intenção de chamarmos atenção para isso, pensamos nessa data. Conversando com um ex-paciente, que era diretor de uma grande agência de publicidade do RS, criamos a logomarca, o desenho de uma úvula, a "campainha". A voz sai pela cavidade vocal, mas não adiantava colocar a imagem de uma prega vocal, que poucos entenderiam. A úvula, essa "campainha", esse "coração", é o símbolo nacional da voz. Foi instituída em 1999 uma campanha que atingiu o Brasil inteiro. Naquele ano, diagnosticamos mais de 700 casos de câncer inicial de laringe. Em 2002, Mário Andrea, um médico de Lisboa, era secretário da Sociedade Europeia de Laringologia e voz, e ele propôs na reunião da diretoria que o exemplo brasileiro servisse para o resto do mundo. A sociedade assumiu o que passou a se chamar de Dia Mundial da Voz. Em, 2004, a Academia Americana de Otorrinolaringologia também aderiu, e, hoje, mais de cem países comemoram a data. Alteração de voz, na maioria das vezes, é benigna, se é curada com tratamento clínico, eventualmente cirúrgico, ou como fonoterapia, mas é importante que se saiba que, em um grupo de seis a oito pessoas de cada 100 mil, poderá ser um câncer inicial de laringe, com altíssima possibilidade de cura.
Quais são as principais doenças relacionadas à voz?
As benignas mais frequentes são as laringites, que em 15 dias costumam regredir. Em cantores e cantoras, temos nódulos de prega vocal. Lesões de pólipo são mais comuns. Mas, se é um paciente de risco, homem que fuma e bebe, temos de pensar em câncer. Existem também as lesões pré-câncerosas, que tendem a se transformar em malignas com o transcorrer do tempo. A voz é o espelho da alma, ela que transmite as emoções, se estamos felizes ou tristes. Precisamos dar importância à voz.
Como manter uma voz saudável?
Primeiro, não fumar. Não só cigarros tradicionais, mas também os eletrônicos, que são tão maléficos quanto os outros. Não se engane: não é porque tem sabor que não seja maléfico. Não beber em excesso. Dormir bem. Proteger a região cervical do frio. Evitar mudanças bruscas de temperatura. Hidratar-se bem. E quem usa a voz profissionalmente, deve fazer aquecimento vocal prévio e buscar orientação de fonoaudiólogo ou professor de canto. Boa alimentação, levar uma vida saudável. Não gritar em excesso também é importante. Aquela rouquidão pós-grito regride espontaneamente em uma semana.