
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Oficial de carreira do governo do Estado, o coronel Julimar Fortes Pinheiro, é, desde segunda-feira (17), novo comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado. Natural de Santiago, ele iniciou na Brigada Militar no ano de 1991, quando em 2016 migrou para o Corpo de Bombeiros Militar, por conta da desvinculação das instituições. Desde o início da sua trajetória, contou com passagens por Santiago, Tramandaí, Canoas, Esteio, Porto Alegre e Caxias do Sul.
À coluna, o coronel falou sobre os desafios no posto.
Como o senhor recebe o Corpo de Bombeiros do RS neste momento? Qual a situação da corporação?
Passamos por momentos bastante difíceis nesses últimos dois anos. Foi uma sequência de desastres naturais que assolaram o nosso Estado e que, para toda nossa tropa, muito trabalho, de um esforço além do cotidiano. Isso nos trouxe reflexos. Não digo negativos, mas nos trouxe dias e meses muito intensos. Porém, são nos momentos de tragédias que as instituições que têm capacidade de resiliência e de trabalho crescem. Foi o que ocorreu com o nosso Corpo de Bombeiros Militar. Em cima dessas dificuldades, a nossa capacidade de superação e capacidade técnica, além da expertise, teve uma constante evolução. Isso ocorreu, claro, também devido à desvinculação com a Brigada Militar, que nos deu autonomia administrativa e financeira. Mas, se entendermos como uma corporação independente, já não somos uma criança tão pequena assim: o Corpo de Bombeiros vem ganhando maturidade de maneira muito rápida. Recebo uma corporação em constante evolução, com um bom trabalho que vinha sendo desenvolvido pelo comandante anterior, o coronel Estevam, e que vamos replicar. Vamos implementar algumas inovações, melhorias, porque são necessárias para que a gente mantenha uma constância de evolução.
Quais as suas propostas?
Temos de dar alguns focos iniciais. Uma coisa muito importante é não desconstruir. Pelo contrário, devemos sempre somar. Vamos manter todas as boas políticas de comando que vinham sendo desenvolvidas e vamos agregar novas. Ficamos com a memória viva da maior enchente de todos os tempos. E que seja essa a maior para sempre, para que não tenhamos de passar por outra (dessa magnitude). Mas, diante de uma capacidade de resiliência, de reconstrução e de preparação, é necessário que estejamos melhor preparados para qualquer tipo de evento, não só os eventos climáticos. Hoje mesmo (quarta-feira, 20) fizemos uma reunião no CAFF (Centro Administrativo Fernando Ferrari) na qual falamos muito sobre a enchente. Mas todos os anos temos algum evento climático que nos deixa um saldo residual, por vezes bastante grave. Temos um plano de aquisições, de melhorias logísticas, por meio do governo do Estado, com grande intensidade nesse ano. Estamos adquirindo uma nova aeronave, a segunda do Corpo e Bombeiros, e isso é de suma importância para elevar o nosso patamar de capacidade operacional. Estamos com um plano de investimento em equipamentos, materiais e viaturas de R$ 250 milhões. Isso vai alavancar o Corpo de Bombeiros de uma maneira muito expressiva enquanto instituição. Venho para dar também atenção a uma política de valorização da nossa tropa. Estamos agregando a nossa capacidade novos soldados, a inclusão de mais 400 bombeiros militares. Também pretendemos aproximar o comando da nossa tropa. A comunidade, primeiro, quer que o serviço público a atenda. E o segundo anseio é que esse atendimento seja bom. Então, isso nós já fazemos e eu vou dar cada vez mais ênfase. Estarei sempre próximo daqueles que executam o serviço, que, efetivamente, estão na labuta diária. Em uma área complexa, que interfere diretamente na economia do Estado, vamos adotar ações em prevenção de incêndio, para que tenhamos cada vez mais padronização com relação às análises e vistorias de PPCIs (Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios), expedição de alvarás e ações pontuais para buscar cada vez mais agilidade através de modernização dos nossos sistemas.
Recebemos alguns relatos da corporação que se mostraram com boas expectativas para a sua gestão. A que o senhor atribui a isso?
Como sou o oficial com maior experiência, uma vez assumindo o comando, isso faz com que a tropa fique tranquila e vá conhecendo o meu perfil. Não nos tornamos comandante a partir do momento em se somos nomeados. O oficial tem um trabalho de comando que desenvolve durante a carreira toda. O que sou hoje é fruto do tempo que fui aspirante, segundo-tenente, primeiro-tenente, capitão, major, tenente-coronel, coronel enquanto corregedor e agora comandante-geral da corporação. Todos que têm a boa ideia de comando almejam chegar a essa função, ao último cargo, e, quiçá, conseguir estar entre aqueles que comandam a corporação. É uma honra, um grande orgulho, mas recai sobre a minha pessoa também toda a responsabilidade de manter e alavancar a imagem da instituição. Talvez a tropa esteja esperançosa porque sabe que vou comandar, não vou mandar. Comandar é "mandar com", eu estarei "com a tropa", eu ouvirei a tropa. É claro que terei de tomar decisões, mas a tropa sabe que vai estar representada pelo seu comandante.