
No próximo dia 14, o seminário científico RS Resiliência & Sustentabilidade, organizado pela Secretaria para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul e a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo vai discutir, na UFRGS os aprendizados a partir da tragédia da enchente.
O professor de Economia da UFRGS Helio Henkin, um dos palestrantes, conversou com a coluna sobre sua pesquisa realizada com colegas do Núcleo de Estudos sobre Indústria, Tecnologia e Economia Internacional (Netit).
Como foi o objetivo da pesquisa?
O nosso grupo de pesquisa, o Netit, buscou tratar o tema da resiliência e da sustentabilidade da economia gaúcha. Não pegamos essa questão de impactos de curto prazo. Temos um núcleo de pesquisa que investiga várias questões ligadas à estrutura produtiva, o grau de diversificação, a complexidade econômica, o quanto ela é concentrada ou não concentrada e outros aspectos do dinamismo da economia. Nós nos perguntamos: em uma perspectiva de longo prazo da economia gaúcha, como podemos analisar a sua estrutura setorial e como isso se relaciona ou indica possibilidades de uma maior capacidade de desenvolvimento sustentável?
Vocês fizeram um diagnóstico?
A literatura em geral tem apontado que, quando o país eleva sua renda, quando a sofisticação da estrutura produtiva é maior, isso normalmente está associado a uma melhora das condições de sustentabilidade ambiental. E há razões econômicas e tecnológicas para isso. À medida que o país consegue evoluir produzindo com maior diversificação e sofisticação produtiva, com mais tecnologia, mais inovação e conhecimento tecnológico, preservação ambiental se tornam mais acessível. Segundo, a rentabilidade maior permite uma maior disponibilidade de recursos das empresas para que o processo de produção seja mais compatível com requisitos de sustentabilidade ambiental. Em terceiro lugar, uma renda per capita maior, à medida que o país trilha um caminho de desenvolvimento e vai crescendo, permite que a demanda dos consumidores possa se direcionar para produtos mais compatíveis com a preservação mental.
O que nós podemos projetar para o Rio Grande do Sul?
No cenário nacional, apesar da perda do dinamismo em termos de crescimento econômico, a perda de participação do PIB gaúcho no Brasil, a hipótese era de que, que apesar disto, a estrutura produtiva do Rio Grande do Sul ainda se mantém com características próximas aos estados mais avançados, com maior diversificação e com renda per capita maior. Por isso ainda tem um potencial de desenvolvimento sustentável maior desde que reverta as suas tendências de performance macroeconômica mais fraca. Usamos métodos estatísticos e aplicamos ao período das duas últimas décadas. Os resultados indicaram, por vários ângulos, que o Rio Grande do Sul ainda permanece com maior grau de diversificação, combinado com maior valor adicionado per capita, e que se alinha aos Estados mais desenvolvidos, dentro daquela visão de que quanto maior a diversificação produtiva, maior a possibilidade de renda per capita mais elevada, de crescimento, e melhores indicadores de sustentabilidade ambiental.
É uma boa notícia.
De modo especial, detectamos que, apesar de tudo, nós ainda estamos muito próximos à estrutura produtiva de Estados que estão com um dinamismo aparentemente maior macroeconômico, como Santa Catarina e Paraná. Então, inclusive, esse nosso diagnóstico, a aplicação do método, mostra que o Rio Grande do Sul tem indicadores, que a gente chama de indicadores prognósticos, que prevêm, com base nos dados de educação, de inovação, de centros tecnológicos, etc., que o Estado tem um prognóstico de ter maior complexidade econômica à frente e maior capacidade de elevação da renda per capita e sofisticação produtiva. Então, por esse ângulo, o Rio Grande do Sul apresentaria condições favoráveis para o enfrentamento dos desafios das mudanças climáticas e da preservação ambiental. Então, por esse ângulo, nós diríamos que o Rio Grande do Sul está bem. Porém, quando nós levantamos os indicadores macroeconômicos estaduais na comparação com outros estados, aparece um sinal forte de alerta.
Qual?
Entre o início dos anos 2000 e o início da atual década, o crescimento do Rio Grande do Sul foi o mais baixo da Região Sul. Então, aqueles nossos vizinhos de agrupamento, a nossa turma onde o Rio Grande do Sul está agrupado, pelo lado da estrutura produtiva e do grau de diversificação, que é uma coisa mais estrutural, do ponto de vista da macroeconomia e da performance macroeconômica e da conjuntura, nós estamos, aí sim, desgarrados. O nosso crescimento foi mais baixo, crescimento agregado. Talvez, o mais complicado, nos últimos 15 anos, o Rio Grande do Sul apresentou sistematicamente uma baixa proporção dos investimentos públicos em infraestrutura, capacidade de gasto em investimentos, em comparação com gastos correntes de despesas de custeio, como proporção do PIB. Isso foi significativamente inferior ao dos demais estados da região Sul.