
Pobres palestinos. Quem sobreviveu à guerra, encontra-se agora, entre um plano tresloucado e egocêntrico — além de criminoso devido à ideia de deslocamento de população — de ver Gaza transformada em um resort trumpiano e outra ideia, pouco realista, de projeto árabe alternativo, que tem poucas chances de vingar. Ou seja, se correr o bicho pega. Se ficar, o bicho come.
Apresentado pelo Egito, o plano da Liga Árabe está recheado de boas intenções: prevê US$ 53 bilhões para reconstruir o território palestino em cinco anos, sem, obviamente, retirar a população. A primeira etapa, de seis meses, consistiria em remover os escombros, as minas e os explosivos, e em criar habitações temporárias para mais de 1,5 milhão de pessoas. Depois, viriam duas fases, uma com a criação de infraestruturas básicas, como hospitais, e habitações permanentes; e outra com a construção de um porto comercial e um aeroporto. Tudo sob a administração da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
No papel, tudo ok. O problema é que a realidade do Oriente Médio, que já implodiu até o espírito de Oslo, é muito mais complexa.
A verdade é que os países árabes nunca se importaram com os palestinos - um a um foram se organizando enquanto Estados, delineando suas fronteiras, selando relações diplomáticas com Israel, buscando aliados de ocasião, e deixando esse povo da estreita faixa de terra na costa do Mediterrâneo à deriva, por vezes transformando sua causa em bandeira meramente política, sem real interesse em construir o Estado palestino. Isso quando essas nações, como a Síria, o Iêmen e o Catar não apoiaram abertamente ou por baixo dos panos os grupos terroristas Hamas e Jihad Islâmica.
A ANP, único ator político legítimo para assumir Gaza, está enfraquecida, imersa em corrupção e com um líder, Mahmoud Abbas, idoso e desacreditado. Há grandes chances de que, se houver eleições dentro de um ano, como proposto no plano, os radicais do Hamas vencerem de novo, como ocorreu em 2007. Não porque os palestinos de Gaza se identifiquem, necessariamente, com os terroristas, mas porque, primeiro a população é refém da organização extremista, segundo porque, contra o inimigo comum, Israel, muitos palestinos viram no Hamas seu defensor.
Terceiro e mais importante: não haverá paz em Gaza enquanto os terroristas existirem. Mas também não haverá qualquer negociação enquanto Benjamin Netanyahu estiver no poder em Israel. É a ONU que deve reconstruir Gaza, e as vozes moderadas que devem falar mais alto. Sob pena de, mais uma vez, adiar-se a paz. Até a próxima esquina de sangue da História.