
Política e futebol, quando misturadas, costumam gerar conflitos, que, volta e meia, descambam das redes sociais para a vida real.
Não foi diferente na Argentina. Mas, por que, afinal, torcedores organizados de times como Independiente, Racing, River Plate, Boca Juniors se uniram aos aposentados em um protesto com a polícia, que terminou em confronto na quarta-feira (13), em Buenos Aires.
Não se pode dizer que foi uma surpresa: há várias semanas, os aposentados vem protestado em frente ao Congresso contra o governo Javier Milei por melhores condições de renda, contra o veto à reforma da Previdência e acesso a medicamentos.
Algumas semanas atrás, uma dessas manifestações já havia terminado em violência. Foi quando uma cena se tornou emblemática: um idoso com a camisa do Club Atlético Chacarita Juniors, equipe de futebol do bairro de Chacarita, em Buenos Aires, aparece sendo agredido pelos policiais.
Logo, começaram aparecer nas redes sociais frases contrárias à pressão contra "abuelos" (avós) ou contra "nuestros viejos" (nossos velhos). No último dia 5, torcedores da equipe engrossaram o protesto. De novo, houve confronto.
As torcidas organizadas na Argentina, que têm histórico de violência, são chamados de barras-bravas.
A marcha da quarta-feira (12) prometia ser ainda maior. À tensão já presente no ar foi acrescido outro aspecto simbólico. Nesta semana, começou o julgamento que pretende esclarecer as circunstâncias da morte de Diego Armando Maradona, ídolo argentino. Os médicos responsáveis pelo ex-craque são acusados de homicídio.
Nesse caldeirão de sentimentos, circulou ainda nas redes sociais a imagem de Maradona e uma de suas frases famosas dita em 1992. O então jogador estava diante do Palácio da Justiça, em um protesto de... aposentados. Ao ser perguntado sobre o que fazia ali, ele respondeu.
- Defendo os aposentados, como não vou defendê-los? É preciso ser muito covarde para não defender os aposentados.
Assim, formou-se o caldo social que levou Buenos Aires a um dos dias mais violentos dos últimos anos.