
O colega Jocimar Farina noticiou, em primeira mão, que o governo do Estado avalia a compra de um novo avião. Diferente dos modelos atuais, o Caravan e o King Air, a aeronave teria motor a jato, ou seja, mais rápida e com maior autonomia de voo.
A ideia é que o avião, seminovo, com valor estimado de R$ 95 milhões, não só auxilie no transporte do governador Eduardo Leite, mas, principalmente, atenda urgências, emergências, transporte de órgãos para transplantes e outras demandas específicas de segurança pública, defesa civil e saúde.
Há vários pontos aí. Um governo comprar um avião é sempre polêmico. Lembro da época que o presidente Lula, em 2005, no primeiro mandato, adquiriu o Airbus VC-1A, apelidado de "AeroLula", em substituição ao "Sucatão" (Boeing KC-137).
É um investimento elevado, sugere, no imaginário popular, gastança, levanta questionamentos sobre a real necessidade do investimento e, principalmente, dúvidas sobre se não há outras reivindicações mais urgentes, como em saúde, educação e segurança pública.
Segundo, no caso específico do avião de Leite, a polêmica que começa a se formar é sobre a origem dos recursos para a compra do equipamento: o Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), criado no ano passado para reunir dinheiro destinado à reconstrução do Estado, após a enchente de maio.
Passados quase 11 meses da tragédia climática, em que as obras emergenciais parecem andar a passos lentos, a sensação é de que comprar um avião não deveria ser prioridade. O governo argumenta que esse tipo de compra está no escopo do plano para que o Estado se torne mais resiliente para encarar futuras tragédias. Vale lembrar que, no auge da enchente de maio, pessoas foram resgatadas na BR-287, à época isolada pelo desastre.
Equipar forças de segurança é investir em resposta rápida em caso de necessidade. Uma analogia possível — e também polêmica — diz respeito à proposta da oposição de usar recursos do fundo para a duplicação da RS-118, entre a Freeway, em Gravataí, e a RS-020, em Viamão, obra esperada há décadas e profundamente necessária para salvar vidas. Também não tem nada a ver com reconstrução, dirão alguns. Sim, mas rodovia teve papel fundamental para garantir o acesso de Porto Alegre com a Região Metropolitana — e com o Brasil — na enchente e nos meses seguintes.
Agora, uma coisa é comprar um avião, outra é garantir a manutenção, que também é cara. O Rio Grande tem várias carências, mas esperaremos que cada um dos problemas seja resolvido primeiro para que outros novos sejam atendidos? Talvez. É uma discussão que a sociedade gaúcha precisa fazer.