
Infelizmente, não surpreende que o acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas tenha colapsado. Desde o início, a segunda fase era a mais desafiadora e sobre a qual recaíam infinitas dúvidas.
Quando o acerto entrou em vigor, em 19 de janeiro, havia algo concreto apenas em relação à primeira etapa, que consistia na troca de 33 reféns israelenses por algumas centenas de prisioneiros palestinos.
Ao final, foram libertados 36 cativos pelo Hamas, e 2 mil palestinos por Israel.
A segunda fase era a mais delicada sobretudo porque impera a desconfiança — esse sentimento sempre presente nas complexidades do Oriente Médio.
Nessa etapa, que deveria ter começado em 3 de fevereiro, haveria um cessar-fogo permanente e a troca adicional de prisioneiros e reféns, entre eles homens civis e soldados (até agora, apenas crianças, mulheres e doentes foram soltos). Ainda estava prevista a retirada total das Forças de Defesa de Israel do território de Gaza.
Sobre a terceira e última fase não havia qualquer perspectiva de caminho a seguir: entrega de restos mortais, reconstrução de Gaza, suspensão do bloqueio do território palestino e o Hamas se comprometendo a não reconstituir capacidade militar — pontos quase inimagináveis tamanhas discordâncias e interesses envolvidos dos dois lados.
Não se falava nem em paz duradoura. Muito menos havia perspectiva de futuro para Gaza (a palavra reconstrução é muito vaga), não fosse o mirabolante plano de Donald Trump de transformar aquele naco de terra devastado em um resort mediterrâneo.
Não se sabe exatamente as razões do que estava na mesa para levar Israel a romper o cessar-fogo de forma unilateral. Sabemos que o governo Benjamin Netanyahu havia exigido libertação da metade do total de reféns ainda está em poder do Hamas (59 pessoas, 24 vivas e 35 mortas). A organização extremista não teria aceito.
Israel diz que o Hamas rejeitou todas as ofertas — não se sabe quais.
A ação militar israelense em Gaza é limitada, por enquanto, a bombardeios. Não houve invasão terrestre em larga escala, o que sugere que o gabinete de governo, com o apoio de Trump, está testando até onde irá pressionando o Hamas. As demonstrações de força pelos terroristas, a cada libertação de reféns, davam mostras de que seu poder de fogo, embora diminuído, não fora neutralizado totalmente nesse um ano me meio de conflito.
Ainda assim, os ataques ocorrem em toda a extensão de Gaza — da Cidade de Gaza, no Norte, passando por Deir al-Balah (Centro), e chegando ao Sul, Khan Yunis e Rafah. Pelo menos 413 pessoas morreram e há mais de 150 feridos, segundo o Ministério da Saúde palestino, sob controle do Hamas.