
A coluna conversou com major Rafael Rozenszajn, brasileiro e advogado em Israel, que atua há 16 anos nas Forças de Defesa de Israel (FDI). Ele explicou que os bombardeios das últimas horas contra a Faixa de Gaza, que deixou pelo menos 400 mortos, no cálculo do grupo terrorista Hamas, foi deflagrado depois que Israel se deu conta de que a organização extremista não pretendia libertar os reféns que ainda estão no território.

A ação militar rompe o cessar-fogo que estava em vigor desde 19 de janeiro. Nesse período, foram libertados 36 reféns (incluindo tailandeses, além dos corpos dos mortos) em troca de 2 mil prisioneiros palestinos. Cinquenta e nove reféns ainda estão em poder do Hamas.
A seguir os principais trechos
O que levou Israel a voltar a atacar Gaza? Houve um motivo?
O Hamas se recusa a libertar os 59 reféns que estão sendo mantidos em Gaza desde o 7 de outubro. São reféns que foram tirados de suas camas, tirados de uma festa. Estão sendo mantidos de forma desumana nos túneis subterrâneos da Faixa de Gaza. Temos relatos de reféns que estão sendo acorrentados, que não estão sendo alimentados, que não estão recebendo água. O governo deu uma chance ao Hamas de mostrar a seriedade, de mostrar que tem a intenção de libertar os reféns. Chegamos à conclusão de que o Hamas não só não tem a intenção de libertar todos os reféns, mas que também está se reorganizando, está se rearmando e planejando realizar ataques terroristas contra os cidadãos israelenses, contra as Forças de Defesa de Israel, planejando ataques como fez em 7 de outubro. Nenhum país soberano agiria de uma forma diferente de como está agindo o exército israelense nesse momento: com mão forte para alcançar os objetivos dessa guerra, para desmantelar a capacidade militar terrorista do Hamas e libertar todos os nossos reféns, fazendo o máximo possível para minimizar os danos a civis na Faixa de Gaza.
Como o Hamas ainda tem capacidade militar, mesmo depois de um ano e meio de guerra?
A liderança militar do Hamas foi eliminada na Faixa de Gaza. Infelizmente, o Hamas tem como lema apagar Israel do mapa. E o Hamas diz claramente que vai continuar fazendo tudo o que puder para colocar em prática esse objetivo. O Hamas diz que não se arrepende do 7 de Outubro e que já está se preparando para o próximo. Então, o Estado de Israel não pode permitir uma situação na qual terroristas continuem atuando para cometer ataques terroristas como foi no 7 de Outubro. Não vamos estar na mesma situação que estávamos quando ocorreu o ataque. O Hamas cometeu o 7 de Outubro, mesmo quando 18,5 mil palestinos de Gaza entravam todos os dias para trabalhar em Israel. Mesmo quando 7,5 mil palestinos entravam em Israel todos os anos para receber tratamento médicos nos hospitais israelenses. Sabendo que o Hamas odeia Israel muito mais do que ama a seu próprio povo. Está disposto a sacrificar seu povo para alcançar o objetivo de apagar Israel do mapa. Não podemos permitir que continue se reorganizando e se rearmando. O Hamas ainda não foi desmantelado na Faixa de Gaza. Esse objetivo da guerra ainda não foi alcançado. O Hamas foi muito enfraquecido, mas ainda não foi desmantelado. E o exército de Israel vai atuar para alcançar os objetivos da guerra, que é desmantelar a capacidade militar do Hamas para trazer de volta todos os reféns, os 59 que continuam na Faixa de Gaza, para que o grupo não represente mais uma ameaça ao Estado de Israel.
A impressão é de que o acordo, apesar de frágil, estava funcionando, afinal mais de 36 reféns foram libertados. Houve algo concreto que levou vocês a perceberem que os demais, 59, não seriam soltos?
Enquanto o Hamas mostrava a intenção de devolver reféns, mesmo agindo de uma forma cruel, de uma forma bárbara, fazendo aquele show... Mas no momento que não tem mais a intenção de devolver os reféns, que quer utilizá-los como garantia para a continuar governando Gaza, não temos outra alternativa a não ser alcançar os objetivos dessa guerra. Não se pode ter um cessar fogo apenas de um lado, se o Hamas continuar se reorganizando, se rearmando e não devolvendo reféns. Essa situação não pode continuar, quem começou essa guerra foi o Hamas, no 7 de Outubro, invadindo o território de Israel, decapitando pessoas, sequestrando mulheres, assassinando bebês. Pessoas que manifestam apoio ao Hamas no Brasil precisam entender que estão apoiando pessoas que estupram mulheres, que decapitam pessoas, que assassinam bebês a sangue frio com suas próprias mãos.
Essa operação, por enquanto, está restrita à ação aérea. Há intenção ou já existe alguma ordem de ocupação terrestre?
O exército de Israel já colocou sobre a mesa do governo todos os planos de operações para garantir que os objetivos da guerra sejam alcançados. Israel é um Estado democrático de direito, e o exército atua de acordo com as diretrizes do governo israelense. O exército está pronto, está determinado, preparado para colocar em prática as decisões.
Israel afirma que costuma avisar a população civil palestina antes de um bombardeio para que possa fugir. Isso ocorreu na atual operação?
Para esclarecer a todos. Existem dois tipos claros de alvos militares que são atingidos pelo exército de Israel: infraestruturas militares e a liderança terrorista. Quando o exército de Israel atinge infraestruturas, o exército pode dar um aviso breve, realmente dá um aviso breve para que civis não sejam atingidos. Mas quando os alvos são os próprios terroristas, não se pode esperar para avisá-los de que vamos atacar. É lógico que um aviso breve nesse sentido não é relevante. O exército israelense, sempre que pode avisar aos civis para evacuar as zonas de combate, age dessa forma. Porque o exército de Israel, diferentemente do Hamas, atua de acordo com todas as normas internacionais. Já fizemos mais de 150 mil ligações para os civis da Faixa de Gaza evacuarem as zonas de combate. Já lançamos mais de 15 milhões de panfletos explicando aos civis as zonas que serão atacadas, as zonas perigosas para eles evacuem. Inclusive nesta terça-feira (18), o porta-voz em árabe já avisou aos civis em diversas áreas na Faixa de Gaza para evacuarem essas áreas porque serão atacadas. Agora, o que acontece: os terroristas do Hamas utilizam os civis como escudos humanos. Eles entram nas zonas humanitárias para se esconderem dos ataques israelenses. Utilizam literalmente os civis como escudos. Nós vimos, nos últimos meses, enquanto estavam devolvendo nossos reféns, como os terroristas se demonstram valentes com os uniformes militares e os armamentos. Mas isso é uma fantasia. Porque, na verdade, os terroristas do Hamas, quando eles estão atuando, eles não estão usando uniformes. Vestem roupas civis. Eles estão de chinelo, de calçado, de camisetas. E quando eles são atingidos, eles entram nas estatísticas do Hamas como se fossem civis. O Hamas publicou que centenas de pessoas foram mortas no ataque (das últimas horas). Quantos terroristas, segundo o Hamas, foram eliminados? Segundo o Hamas, nenhum. Segundo o Hamas, não existem terroristas na Faixa de Gaza. Todos que são mortos, segundo o Hamas, são civis. Isso só nos mostra que nós não podemos acreditar nos números do Hamas. É um grupo terrorista, que não tem nenhum compromisso com o direito internacional. O Hamas não tem nenhum compromisso com a verdade. É um grupo cruel, bárbaro, totalmente contrário à civilização. Todas as pessoas que apoiam a civilização, que apoiam a liberdade, os valores do mundo ocidental, precisam rejeitar o Hamas. E precisam apoiar Israel, que está lutando essa guerra tão necessária contra um grupo terrorista, que é um mal, não somente para Israel, mas também para o próprio povo palestino. E sabe mais? Para a humanidade.