
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
O ex-governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola é citado em um conjunto de documentos do serviço secreto dos Estados Unidos sobre a investigação do assassinato do presidente John F. Kennedy, em 1963. Os arquivos, que até eram "classificados" (ou seja sigilosos), foram tornados públicos na terça-feira (18) após o governo de Donald Trump liberar a divulgação.
Os documentos, que envolvem relatórios de diversos órgãos americanos, como a Agência Central de Inteligência (CIA), revelam que os EUA monitoravam as relações da China e de Cuba com Brizola.
Um telegrama de 1961 aponta:
— Durante a semana de 27 de agosto, o presidente Mao Tsé-Tung da China comunista e o primeiro-ministro Fidel Castro de Cuba ofereceram apoio material, incluindo "voluntários", a Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, que liderava a luta no Brasil para garantir a sucessão à Presidência do vice-presidente João Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros. Brizola não aceitou a oferta, embora tenha apreciado o apoio moral, porque não quis ‘criar um assunto internacional’ na crise política do Brasil.
O documento completo, que pode ser acessado aqui, também fala que "Brizola obviamente tinha medo" de que se as ofertas fossem aceitas e que os EUA pudessem intervir no Brasil. O apoio seria para a campanha da Legalidade, em 1961, e não haveria relação direta com os fatos subsequentes, que levaram ao assassinato do então presidente americano.
JFK foi assassinado em 22 de novembro de 1963, enquanto desfilava em carro aberto em Dallas, no Texas. A investigação oficial à época apontou Lee Harvey Oswald como autor dos disparos. Desde aquele momento, como não houve julgamento, o caso apresentou falhas e teorias da conspiração, principalmente com relações a Guerra Fria, a União Soviética e a Cuba.
Outro trecho cita que Cuba estava realizando o "fornecimento de fundos, treinamento de guerrilha e apoio de propaganda para grupos comunistas e pró-comunistas".
— Operando principalmente por meio da embaixada no Rio de Janeiro, Havana colaborou de perto com as Ligas Camponesas de Francisco Julião no nordeste do Brasil e com Leonel Brizola, o cunhado agressivamente antiamericano de Goulart. O ex-embaixador cubano privadamente descreveu Brizola como tendo a melhor chance de começar uma revolução no estilo castrista no Brasil. O embaixador parecia mais inclinado a apoiar Brizola do que Julião no final de 1963 até o golpe de abril — cita.
Essa não é a primeira vez que Brizola e o Brasil são citados em relatórios secretos da CIA. Em 2017, outros documentos apontaram que os Estados Unidos espionaram o político gaúcho e os escritores como Erico Verissimo e Josué Guimarães. O jornal Tribuna Gaúcha, ligado ao PCB, também foi monitorado.