
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Além do caso envolvendo o ex-governador Leonel Brizola, que foi espionado pelo governo americano quando China e Cuba ofereceram apoio durante a campanha da Legalidade em 1961, o Brasil é citado em pelo menos outros cinco pontos do relatório do serviço de inteligência dos Estados Unidos sobre a investigação do assassinato do presidente John F. Kennedy.
Os documentos, divulgados na terça-feira (18) e que podem ser acessados aqui, também citam a influência de Cuba sobre o Brasil. Em um discurso de Fidel Castro em julho de 1963, o líder teria dito que seu país seria a "principal fonte de inspiração e orientação para revoluções inevitáveis no resto da América Latina". Em outro trecho, o relatório detalha que, em junho de 1964, houve ações do regime comunista de Fidel no Brasil e em outros países da região.
Outro ponto relata o esforço de Cuba para iniciar outras revoluções na região "A revolta de abril em que o presidente Goulart do Brasil foi deposto (golpe de 1964) também foi uma derrota grave para Havana. Esses reveses podem ter produzido um sentimento em Havana de que uma pausa para descanso é necessária. Além disso, Castro deverá ser cuidadoso e moderar suas táticas revolucionárias quando visitar a União Soviética, em janeiro".
Propaganda e ajuda comunista
O relatório cita, também, um congresso da Confederação Única dos Trabalhadores da América Latina (Cutal), realizado em janeiro de 1964, em Brasília, com o objetivo de difundir a propaganda cubana. O evento, porém, não ocorreu.
O texto também cita que Cuba estava realizando um "fornecimento de fundos, treinamento de guerrilha e apoio de propaganda para grupos comunistas e pró-comunistas" no país.
O documento diz ainda que o regime cubano estava ajudando a financiar as atividades na imprensa e no rádio e para comprar armas para a Frente de Mobilização Popular.
O documento traz relatos dizendo que "cerca de dez dias antes da deposição de Goulart, Havana mandou dinheiro para o Brasil em um esforço para fortalecer as forças de Brizola. Quatro mensageiros cubanos levaram dinheiro ao Brasil".
Relação com João Goulart
Os arquivos citam que, durante o governo de João Goulart, o Brasil teria sido uma área de trânsito por militantes que tinham feito treinamento em Cuba, principalmente em São Paulo e Goiás: "No final de abril, o dissidente Partido Comunista do Brasil (PCB), que segue uma linha pró-China, ordenou dois líderes treinados em Cuba a começar operações paramilitares em São Paulo e Goiás. Os membros do PCB foram encorajados pelos seus camaradas cubanos — podem ter sido treinados em Cuba, mas não sabemos se Havana deu apoio direto", afirma o documento da CIA datado de 4 de junho de 1964".