
Apesar de denunciar 23 militares das Forças Armadas, entre eles sete oficiais-generais e ex-comandantes pelo esquema golpista, a Procuradoria-Geral da República (PGR), acertadamente, faz questão de preservar a instituição, isentando-a da trama de ruptura constitucional.
Na página 21 do documento, o procurador-geral Paulo Gonet afirma que o "próprio Exército foi vítima da conspirata". Acrescenta que "sua participação no golpe foi objeto da constante procura e provocação por parte dos denunciados".
Como já demonstrado nesta coluna, em textos de colegas e em reportagens, generais que resistiram ao assédio sofreram campanhas de perseguição orquestradas por seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ainda na página 21 da denúncia, a PGR afirma: "Os oficiais generais que resistiram às instâncias dos sediosos sofreram sistemática e insidiosa campanha pública de ataques pessoais, que foram dirigidos até mesmo a familiares.
Embora a maioria dos militares tenha votado em Bolsonaro na eleição de 2018 - e, sem a farda, a caserna seja amplamente simpática à agenda do ex-presidente -, não se pode generalizar como aderentes à ideia da quartelada. Muito menos a instituição.
Ainda conforme o texto, "as contínuas agressões morais se davam sempre no propósito de impeli-los ao movimento rebelde, servindo ainda de indutor a que outros militares, embaídos pelo degenerado sentimento de patriotismo de que a organização criminosa se servia, formassem com os insurretos".
Vale lembrar que oficiais que não aderiram à trama eram classificados em grupos de redes sociais pelos colegas golpistas como "melancias" - verdes por fora, vermelhos (comunistas) por dentro. O então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, chegou a ser chamado de "cagão" por Walter Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente na chapa de 2022 com Bolsonaro e, aliás, está preso e agora denunciado.
Também acertadamente a denúncia valoriza aquilo que, em outros momentos, já se destacou: o plano de intentona só não foi adiante porque os golpistas não conseguiram a aderência de todo o Estado-maior nem tampouco da tropa, reforçando o caráter de Estado das Forças Armadas. Diz o texto: "A decisão dos generais, especialmente dos que comandavam Regiões, e do Comandante do Exército de se manterem no papel constitucional foi determinante para que o golpe, mesmo tentado, mesmo posto em curso, não prosperasse.
O documento refere-se especialmente ao general Freire Gomes, que ao contrário dos colegas do Alto Comando das Forças, como o almirante Almir Garnier, da Marinha, que colocou suas tropas à disposição de Bolsonaro para o plano, não aceitou a proposta de ruptura constitucional.