Talvez o único tema com o qual republicanos e democratas concordam é a crescente ameaça chinesa à hegemonia americana sobre o sistema internacional. A rivalidade, que muitos consideram uma Guerra Fria 2.0, aparece não só na tecnologia, onde a rixa é mais visível em parte pelo lançamento da plataforma de inteligência artificial DeepSeek, cujo desenvolvimento foi mais "barato" com performance equivalente na comparação com as concorrentes, mas também nos campos econômico, militar e geopolítico.
Com o esfacelamento da URSS e o fim do período unipolar, em que os Estados Unidos lideraram a ordem global, a China emergiu como a grande rival dos EUA: é a segunda maior economia do mundo, tem um projeto alternativo de globalização, por meio da Belt and Road Initiative ("Nova Rota da Seda), questiona a liderança americana nos organismos internacionais e exibe uma cada vez mais formidável máquina militar. Foi no governo Barack Obama que os EUA estabeleceram o "pivot para a Ásia" para contrabalançar, com investimentos e efetivo militar, a influência chinesa na Ásia, mas o flexionar de músculos continuou com Donald Trump, que declarou a China, junto com a Rússia, potência "revanchista". Para o republicano, o dragão asiático virou a encarnação de todos os males: da mudança de empresas americanas para a Ásia, em busca de mão de obra barata, o que deixou desertos em cidades americanas outrora santuários da indústria, passando pela guerra comercial e chegando ao "vírus chinês" (como Trump classificou o H1N1).
Em seu primeiro mandato, o republicano elegeu a Huawei a inimiga número 1 do Ocidente, acusando-a de roubar informações para o Partido Comunista Chinês. A caçada às companhias continuou com Joe Biden tendo o TikTok como alvo e chegará, não duvidem, a High-Flyer, startup que desenvolveu a DeepSeek.
Depois de reeditar a debandada dos EUA dos organismos multilaterais, como a OMS, de rasgar a agenda do clima, de implementar sua controversa política migratória, Trump 2.0, turbinado pelo apoio das big techs nacionais, já pode virar a página para o próximo capítulo do seu manual de governo: mirar a China.