A companhia aérea Azerbaijan Airlines, dona da aeronave fabricada pela Embraer, que caiu nesta semana no Cazaquistão, matando 38 pessoas (29 se salvaram), afirmou que uma "interferência externa e técnica" provocou o desastre.
A informação reforça a hipótese de que, possivelmente, o avião foi atingido por disparos do sistema de defesa antiaéreo russo.
Desde o primeiro momento, suspeitava-se de que um foguete ou míssil - ou mesmo estilhaços desses artefatos - tivessem atingindo a aeronave, que saíra de Baku com destino a Grozny, capital do região russa da Chechênia.
A suspeita de "interferência externa" como causa da tragédia devia-se a dois fatores: primeiro às perfurações em partes da fuselagem, como na cauda da aeronave, que sugeriam disparos. Segundo: aquela região do planeta é uma das mais perigosas do mundo para a aviação comercial.
Zonas em guerra são um desafio para a atividade. Poucas companhias aéreas têm expertise para percorrer rotas sobre territórios convulsionados.
A Turkish Airlines, por exemplo, costuma ser exceção. Quando a maioria das empresas costuma deixar seus aviões em terra diante de uma guerra, a companhia turca costuma seguir operando. Sua base, Istambul, é também um dos principais hubs entre o Ocidente e o Oriente. Da principal cidade turca, por exemplo, partem voos para Beirute, Tel Aviv, Cairo, Moscou, Bagdá, Cabul e outras zonas em convulsão.
Muitas vezes, entretanto, nem os corajosos pilotos da Turkish arriscam voar. Nas duas vezes em que tentei chegar a Israel - neste e no ano passado, foi preciso desviar a rota de Istambul a Tel Aviv para Amã, na Jordânia. Em guerra, o aeroporto de Tel Aviv costuma fechar, e apenas a companhia aérea israelense El Al mantém as operações de pouso e decolagem. As demais não dispõem de seguro para esse tipo de risco.
Já comentei aqui que, em outubro deste ano, meu voo (da Turkish) decolou do Cairo com destino a Amã, poucas horas depois da chuva de drones cruzar o céu jordaniano em direção a Israel. E como eu torcia para não ver uma explosão pela janela da aeronave, no mais tenso voo da minha vida.
Mesmo com toda a segurança que envolve o transporte aéreo civil de passageiros, há sempre um componente imponderável em jogo. Nenhum exército projeta, por exemplo, atingir um avião comercial lotado de passageiros, como ocorreu em junho de 2014, sobre o território da Ucrânia. O voo MH17, da Malaysia Airlines, com 298 pessoas a bordo, ia de Amsterdã (Holanda) para Kuala Lumpur (Malásia), quando foi abatido por um míssil.
"Caiu em consequência do impacto de um míssil fora do avião, contra a parte esquerda da cabine do piloto", declarou o diretor do Escritório de Segurança da Holanda (OVV), Tjibbe Joustra. O míssil corresponde ao tipo de instalado nos sistemas terra-ar Buk."
Tudo aponta para a Rússia - assim como, desta vez, no caso do avião da Azerbaijan Airlines.
Devido ao risco de se voar em zonas de guerra, se você olhar no Flight Radar, site de monitoramento de voos em tempo real, verá que existem grandes bolsões no mapa pelos quais não passa nenhuma aeronave: o território da Ucrânia é um deles.
A partir da tragédia desta semana, a Azerbaijan Airlines e a autoridade estatal de aviação civil do Azerbaijão decidiu suspender voos a partir de Baku para Sochi, Mineralnye Vody, Volvogrado, Ufa, Samara, Saratov, Nizhny, Novgorod e Vladikavkaz - todas na Rússia.