A bomba-relógio explodiu. Desde domingo, a Venezuela acumula todos os componentes para a consolidação de um golpe perfeito para a manutenção da ditadura.
É quase um coquetel de ações articuladas nas entranhas do Palácio de Miraflores, sede do reino de Nicolás Maduro em Caracas: primeiro, uma vitória é anunciada sem detalhes dos números ou divulgação de atas de votação, após um apagão que o governo atribui a um ataque hacker. O objetivo prático dessa tática é criar desorientação, embaralhar as cartas, eventualmente apontar a culpa, se nada der certo, ao inimigo externo.
Diante da desconfiança internacional, o roteiro conhecido dos autocratas segue, com repressão interna, com feridos e mortes, que servem de argumento para o regime dobrar a aposta da violência - e justificá-la.
Terceiro, a prisão de líderes da oposição. O primeiro desse capítulo atual é Freddy Superlano, figura conhecida da política venezuelana. Não duvide, virão outros. Quarto, uma autoridade do governo vai à TV para afirmar que há uma tentativa de golpe em curso. O papel coube ao truculento ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, eminência parda do regime e, em geral, vetríloco de Maduro. A ditadura inverte a realidade, colocando-se na figura de vítima, quando, na verdade, é algoz.