Um novo estudo internacional revela como Google e Meta espalharam desinformação, lucrando por meio de propaganda online, autorizando anúncios de arrecadação de fundos falsos com o desastre provocado pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
Intitulado "Enxurrada de Desinformação: como o Google e o Meta estão lucrando com a crise climática do Brasil" o relatório, produzido pela ONG global Ekō, identificou 14 vídeos monetizados que já somaram mais de 5,5 milhões de visualizações no YouTube. As imagens espalham conteúdos falsos, como por exemplo, informações segundo as quais agentes públicos teriam obstruído o fluxo de doações de alimentos e suprimentos médicos para as comunidades devastadas pelas enchentes.
Os vídeos identificados já foram checados e confirmados como falsos por agências de verificação de fatos. A ONG afirma que os conteúdos permanecem na plataforma. Outros, postados por influenciadores, sugerem, entre outras falsidades, que a resposta emergencial para as enchentes estaria recaindo totalmente sob voluntários e entes privados, supostamente por incapacidade e desinteresse dos órgãos públicos.
A pesquisa também revelou dezenas de anúncios de arrecadação de fundos falsos no Facebook e no Instagram (pertencentes à Meta), que imitam logos de organizações oficiais do governo e de ONGs. Na verdade, os dados bancários eram de pessoas físicas. Isso é prejudicial porque desestimula a ajuda financeira no momentou da crise e tão necessária nesse momento de reconstrução.
Um outro aspecto da pesquisa mostra que grandes marcas estão patrocinando conteúdos falsos sobre as autoridades brasileiras. Uma das informações mentirosas dava conta de que entes públicos estariam se apropriando indevidamente do dinheiro do contribuinte ou estavam retendo suprimentos médicos. Outra desinformação alimentava teorias da conspiração que ligam as enchentes a rituais satânicos realizados por Madonna.
Os 14 canais do YouTube identificados na pesquisa somam mais de 29,3 milhões de seguidores, garantindo o alcance de dezenas de milhões de pessoas a atores mal intencionados.
- O Google e a Meta estão lucrando descaradamente com o pior desastre climático do Brasil. Enquanto cidades inteiras estão submergidas, o YouTube lucra ampliando desinformação que atrapalham os esforços de resgate custando vidas. Já a Meta amplia anúncios de campanhas fraudulentas de arrecadação de fundos, desviando fundos extremamente necessários de quem mais precisa. Mesmo diante de uma crise humanitária, essas empresas continuam atuando de forma extremamente desonesta. A regulamentação dessas empresas no país é urgente. O que mais precisa acontecer? - diz Vicky Wyatt, diretora da Ekō.
Consultora sênior de Tecnologia e Direitos Humanos da Ekõ, a gaúcha Flora Rebello Arduini afirma que as próprias plataformas que se dizem destinadas a conectar pessoas e informar "estão agora lucrando com mentiras que obstruíram ajuda e alimentaram o caos".
- Já vimos isso ocorrer durante a pandemia e nos ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Regulamentar é a única saída para garantir que essas empresas tenham incentivo em colocar em prática medidas de salvaguarda e resposta em momentos críticos como esse, e que, falhando, sejam responsabilizadas pelos danos - avalia.
O relatório da Ekō foi enviado à Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal. A intenção é que o Ministério da Justiça abra uma investigação por meio da Polícia Federal (PF).
Posicionamento da Meta
"Lamentamos a crise que está afetando o povo do Rio Grande do Sul e nos solidarizamos com todos os afetados pela tragédia das enchentes. Não permitimos atividades fraudulentas em nossos serviços e estamos removendo conteúdos violadores assim que identificados por meio do uso de tecnologia, denúncias de usuários e revisão humana. Investimos, ainda, em campanhas educativas para compartilhar dicas sobre como as pessoas podem se proteger e evitar tentativas de golpes online. Também reforçamos nossa contínua colaboração com as autoridades do Rio Grande do Sul."
A coluna também pediu esclarecimentos ao Google e seus representantes no Brasil e aguarda posicionamento.