Um município, uma cidade, um Estado são capazes de se reerguer após uma tragédia como a que o Rio Grande do Sul está vivenciando. Não sem antes gastar todas as energias em salvar vidas. Ato contínuo, é necessário chorar, viver o luto para, só então, começar a pensar em curar feridas - e na recuperação. Infelizmente, é uma jornada longa e que ainda iremos demorar para superar por aqui.
Ainda assim, na dor e na hora da reconstrução, podemos observar como outras comunidades dobraram suas próprias esquinas trágicas, depois de vivenciarem desastres ambientais semelhantes.
Uma de minhas primeiras coberturas internacionais pela RBS foi o desastre do furacão Katrina em New Orleans, em 2005. Cheguei de carro em uma cidade que estava 80% debaixo d'água, onde havia 1,8 mil mortos e milhares de desabrigados amontoados em ginásios de esporte, que havia se tornado palco de estupros e outras violações. A cidade, conhecida pelo jazz e o Mardi Gras, é como uma bacia - de um lado, fica o caudaloso Mississipi, de outro, o Lago Pontchartrain. No meio e alguns metros abaixo do nível do mar, está a metrópole. O sistema de diques, que protegia a cidade, se rompeu e teve início a catástrofe.
Ainda assim, New Orleans sobreviveu. Não sem traumas. Não sem antes mergulhar em uma profunda reflexão sobre o futuro desejava para si. Até que se abandonasse a metrópole inteira para reconstruí-la em outro local chegou-se a pensar. Mas os moradores decidiram ficar.
Dez anos depois do furacão Katrina, um projeto de infraestrutura orçado em US$ 14,5 bilhões foi erguido para proteger a cidade dos efeitos de novas tempestades. O corpo de engenheiros das forças armadas dos Estados Unidos foi destacado. A solução foi construir um grande muro de concreto que contivesse a força da água e ajudasse a bombeá-la para fora da cidade, devolvendo-a ao mar. Batizada de “Muralha”, a obra começou a ser projetada em 2006 e em 2015 foi 100% concluída. Os especialistas testaram, por meio de simuladores, os efeitos de mais de 150 furacões que já haviam atingido os Estados Unidos e a América Central. Outro projeto foi a recuperação dos pântanos do Golfo do México, financiado pelo governo de Louisiana.
Hoje, New Orleans é exemplo de prevenção a tragédia ambientais, e o modelo passou a atrair os olhares de pesquisadores e autoridades de todo o mundo, especialmente de cidades que ficam a beira de rios, lagos e mares.