![MAURO PIMENTEL / AFP MAURO PIMENTEL / AFP](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/5/4/3/0/6/7/4_ed4623262954e66/4760345_8726f90edd5d025.jpg?w=700)
O ex-presidente Jair Bolsonaro experimenta a mão dura da lei.
Em uma democracia, ninguém - nem o comandante-em-chefe da nação - está acima da Justiça e atentar contra a mesma, em um ambiente onde as instituições são independentes, resulta em punição.
Em 18 de julho de 2022, o então presidente expôs para o mundo ver sua obsessiva e falsa tese das irregularidades do sistema eleitoral brasileiro - processo pelo qual foi eleito cinco vezes deputado federal (1998 a 2014, nos anteriores, as urnas eletrônicas que passou a contestar não haviam sido implantadas ainda) e uma vez presidente (2018).
Os brasileiros já estavam habituados (demais até) a suas acusações, que só encontravam lastro no mundo de faz-de-conta bolsonarista. Em rede internacional, o Brasil passou vergonha. Bolsonaro tentou fazer embarcar os representantes das principais potências do mundo em seu devaneio particular.
A crítica ao Judiciário "faz parte", como disse a ministra Cármen Lúcia, que selou o destino do ex-presidente na sessão desta sexta-feira (30), ao formar maioria no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) antes mesmo do fim da leitura dos demais votos dos colegas magistrados.
Mas o que Bolsonaro fez não estava no âmbito do debate de ideias, saudável ao ambiente democrático. O presidente atacou o Judiciário para se autopromover, desqualificar seu adversário no pleito e ao sistema eleitoral - além de insuflar seus seguidores contra as instituições do Estado. Seu afã de julgar-se acima da lei não está muito longe do que Nicolás Maduro, a quem tanto critica, fez e faz na Venezuela: a destruição da democracia por dentro e a absorção de um Poder da República por outro.
Bolsonaro tanto acreditava que o cargo a ele outorgado pelas urnas em 2018 lhe garantiria estar acima de todos que vilipendiou inclusive os ritos de seu próprio ministério - o encontro dos embaixadores teria sido arquitetado sob seu comando, sem consulta ao Itamaraty, que tem a prerrogativa de organizar eventos com representantes de outros países.
Ainda que não tenham sido incluídos nas análises dos magistrados outros gestos que corroborariam para a sanha golpista, o objeto implícito nos pronunciamentos dos magistrados que votaram pela cassação foi o conjunto da obra: as lives nas quais o então presidente utilizava o espaço público privilegiado, a máquina estatal e os canais oficiais para questionar a legitimidade das eleições, e a minuta do decreto sobre o Estado de Defesa no TSE encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres.
Fora do poder e inelegível por oito anos, Bolsonaro começa acertar as contas com a Justiça. Por enquanto a eleitoral, o primeiro fio de um novelo a ser puxado. O próximo capítulo deve ser a Justiça Criminal.