- Eu, agora, só saio de Brasília depois do julgamento.
A frase é de Flávio Silva, pai de Andrielle, uma das vítimas da tragédia da boate Kiss. Ele pronuncia essas palavras na Praça dos Três Poderes em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, tendo, ao fundo a estátua da deusa grega Têmis, que representa a Justiça.
Justiça, aliás, é algo que os pais ainda esperam mais de 10 anos depois do desastre de 27 de janeiro de 2013. A frase de Silva representa a de muitos familiares que perderam seus filhos e filhas, irmãos e irmãs, sobrinhos e sobrinhas e que pretendem ficar na capital federal por tempo indeterminado.
Silva e Paulo Carvalho, diretor jurídico da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) e pai de Rafael, também vítima do incêndio, foram os precursores da vigília que familiares irão empreender a partir desta semana em frente ao STF e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para reivindicar agilidade no julgamento de recurso do Ministério Público do Estado (MP-RS) contra a anulação do júri que condenou, em dezembro de 2021, os quatro réus pela morte das 242 jovens.
Mais familiares chegaram no sábado. Nesta terça-feira (11), outros pais devem desembarcar na capital.
- Essa vigília vai ter início na frente do STJ, com pedido de prioridade total no julgamento desses recursos do MP para tentar reverter essa decisão do TJ-RS, que anulou o júri.
Uma vaquinha online foi organizada (veja aqui) para ajudar nos custos da permanência dos pais em Brasília. A meta é de R$ 200 mil. O valor é para custeio de transporte, alimentação e estadia.
- Já conseguimos valores para pelo menos uma quantidade de pais possam vir. A ideia é trazer mais pais e mães, mostrar a representatividade dos 242 jovens falecidos e dos mais de 600 sobreviventes - afirma Carvalho.
Os pais também pretendem organizar um seminário no Congresso sobre os 10 anos da tragédia.
- Para que se reflita sobre esse período e sobre como esses recursos da defesa são inesgotáveis. É um absurdo tão grande. Não vamos ceder enquanto isso não for resolvido - diz Carvalho.
Na sexta-feira (7), Silva e Carvalho conseguiram acesso ao Palácio do Planalto, enquanto o presidente Lula conversava com jornalistas para o balanço dos cem primeiros dias de governo. Eles foram recebidos pelo ministro da Secom, Paulo Pimenta, que é de Santa Maria. Os pais desejam um apoio simbólico do presidente para a causa.
Em fevereiro, o Tribunal de Justiça do Estado informou que a 2ª Vice-Presidência do órgão admitiu os recursos especial e extraordinário interpostos pelo MP-RS. Depois de apreciado no STJ, o recurso que questiona a anulação deve ir para a última instância do Poder Judiciário, o STF.
A expectativa dos pais é só deixarem Brasília após o julgamento dos recursos.