No discurso sobre o Estado da União, o mais importante pronunciamento do presidente dos Estados Unidos no ano, realizado nesta terça-feira (7) por Joe Biden, houve os clássicos aplausos, que costumam interromper, a cada uma ou duas frases, a fala do chefe da nação. Mais por tradição do que por concordância com o que Biden disse. Até porque, pela primeira vez em seu mandato, o presidente democrata estava em terreno minado, diante de uma Câmara dos Deputados de maioria republicana.
Quando aplaudem, os congressistas estão o fazendo mais em respeito ao cargo representado ali, no Capitólio, pelo presidente, do que pelo político que ocupa o cargo. Mesmo assim, houve sinais da oposição. Em vários momentos o presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy e boa parte dos correligionários se mantiveram imóveis, demonstrando seu descontentamento com o que dizia Biden.
Em terreno bem mais minado do que no ano passado, em sua estreia, quando tinha Nancy Pelosi a lhe ombrear, Biden procurou salientar os pontos convergentes que ajudaram o país a sair da crise da covid-19 e do ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021. Fez um discurso de união e superação.
A fala, transmitida ao vivo pelas principais emissoras de TV, é uma espécie de prestação de contas do presidente às duas Casas do Congresso, à Suprema Corte e aos cidadãos. Nisso, Biden cumpriu o objetivo, abusando do suposto excepcionalismo americano, ao dizer que é a única nação que costuma sair mais forte de uma crise. Ele também destacou a recuperação da economia no pós-pandemia, sublinhando a geração de 12 milhões de postos de trabalho em dois anos e o controle da inflação, ainda que, no horizonte, se vislumbre possível recessão e menor crescimento.
Isso foi o que Biden disse. O que não disse, mas deixou nas entrelinhas, é algo que quase todos os analistas políticos apostam: ele será candidato à reeleição em 2024. O tom otimista do discurso de terça-feira (7) confirma que essa oficialização virá nas próximas semanas. Aliás, Biden já colocou a campanha na rua nesta semana, com visitas aos Estados, que só serão interrompidas para receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira (10).