O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrará, na sexta-feira (10), Joe Biden, em Washington, em um momento delicado de seu governo. A celeuma provocada pelo balão chinês, que cruzou o céu americano por vários dias antes de ser abatido por um míssil provavelmente muito mais caro do que o custo do artefato espião, junta-se a outras crises nesse terceiro ano do mandato do democrata.
Biden enfrenta queda na popularidade e um escândalo desde que foram encontrados em sua residência e em seu antigo escritório privado lotes de documentos confidenciais, o que é proibido por lei. Os textos são da época em que ele era senador e, depois, vice-presidente dos Estados Unidos.
A "crise do balão" foi aproveitada pela oposição republicana justamente quando Biden se prepara para, na terça-feira (6), fazer seu penúltimo discurso sobre o Estado da União, a fala mais importante do ano para o presidente americano, quando as duas casas do Congresso param para lhe ouvir.
No discurso, espera-se que Biden faça um lançamento informal de sua candidatura à reeleição.
Os republicanos, entre eles o ex-presidente Donald Trump e vários deputados, têm dito que Biden demorou muito para tomar a decisão de abater o aparato chinês - em uma suposta prova de sua lentidão. O balão foi detectado na quinta-feira e só abatido no sábado. A pergunta que a oposição faz é o que teria ocorrido se, ao contrário do balão, um outro artefato colocasse em risco a segurança americana.
Um equipamento chinês cruzando o espaço aéreo americano traz, do ponto de vista simbólico e no imaginário de muitos cidadãos, uma sensação de fragilidade e exposição do país ao risco. E, nessa narrativa, Biden teria se mostrado um líder fraco (e lento) diante de uma possível ameaça. O argumento do governo é de que só deu a ordem para derrubar o balão quando esse deixou o território continental americano, porque, antes, haveria risco de o artefato, caindo em terra, ferir ou mesmo matar alguém.
A crise do balão também chega em um momento de tensão com a China, que poderia ser amenizada pela visita do secretário de Estado americano, Antony Blinken, a Pequim - suspensa devido ao incidente. As relações já não são das melhores desde muito antes de Biden assumir a Casa Branca, mas foram duramente afetadas no ano passado pela decisão da então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, de visitar Taiwan. Nos últimos dias, para piorar, os americanos fecharam um acordo com as Filipinas expandindo o uso de bases militares pelos Estados Unidos no país, em uma ação de dissuasão perante a China.
Aliás, a se confirmar a decisão de Biden de se candidatar à reeleição, ele chegará ao pleito, em novembro de 2024, perto de completar 81 anos - a mesma idade que Lula terá em 2026. O presidente brasileiro também deixa aberta a possibilidade de se candidatar à reeleição dentro de quatro anos.