O Brasil vai restabelecer as relações diplomáticas com a Venezuela, voltando a reconhecer o governo de Nicolás Maduro como legítimo representante do país sul-americano. O anúncio foi feito na tarde desta quarta-feira (14), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), pelo futuro ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
- O presidente me instruiu que reestabelecêssemos as relações com a Venezuela, o que faremos a partir do dia 1º, enviando em um primeiro momento um encarregado de negócios para retomar os prédios que temos lá, residências, chancelaria, e reabrir a embaixada. E vamos, posteriormente, indicar um embaixador junto ao governo venezuelano - disse o diplomata, que atualmente é o titular da embaixada da Croácia.
Questionado sobre Juan Guaidó, reconhecido pelo atual governo de Jair Bolsonaro como o presidente da Venezuela, o embaixador deixou claro que o Brasil irá manter relações com o regime de Nicolás Maduro:
- O governo que foi eleito, o governo do presidente Maduro.
Este foi o primeiro encontro de Mauro Vieira com jornalistas, desde que teve o nome confirmado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, na segunda-feira (12). Em relação ao acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, travado devido a questionamentos dos parlamentos e governos europeus sobre a política ambiental de Bolsonaro, ficou clara a prioridade que a administração Lula pretende dar ao tema.
- É um acordo muito importante, vamos retomar os contatos e saber como estão as negociações. Creio que haverá um horizonte melhor tendo em vista as políticas ambientais anunciadas pelo presidente Lula. Creio que facilitará.
O chanceler informou que, primeiro, serão consultados os vizinhos e, depois, a União Europeia. Questionado sobre o processo de entrada do país na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o futuro chanceler ponderou que precisa conhecer os termos:
- Vamos examinar, é um processo adiantado. Tenho certeza de que há pontos importantes.
Vieira disse que foi chamado pelo presidente Lula a restabelecer pontes com "vizinhos, com a América Latina e com a África" e "com parceiros tradicionais no mundo desenvolvido - EUA, China e UE".
- Queremos ter uma relação intensa, produtiva, mas equilibrada, uma relação soberana. E desenvolver todas as possibilidade de cooperação e troca em todos os sentidos com esses países - afirmou.
Três viagens em três meses
Mauro Vieira destacou que Lula pretende visitar nos primeiros três meses de mandato Argentina, Estados Unidos e China. Sobre os dois primeiros, os convites eram para antes da posse, mas a decisão ficou para depois do dia 1º de janeiro.
Líderes confirmados
Dezessete chefes de Estado confirmaram presença até agora na posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o coordenador da organização do evento, embaixador Fernando Igreja. São os representantes dos seguintes países: Alemanha, Angola, Argentina, Bolívia, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Guiana, Guiné Bissau, Paraguai, Portugal, Suriname, Timor Leste, Uruguai e Zimbábue. Também estarão presentes o vice-presidente do Panamá, o secretário executivo da CPLP e ministros de Relações Exteriores de Costa Rica, México, Palestina e Turquia.
Maduro foi convidado
Nicolás Maduro foi contatado pelo Itamaraty, está sendo informado sobre a posse, mas está impedido de ingressar no Brasil. Igreja admite que não sabe se será possível sua participação na cerimônia. Questionado se o Itamaraty poderia dar um salvo-conduto a Maduro, o diplomata afirmou que não houve conversas sobre esse instrumento até o momento.
Primeira mulher
Em um ambiente considerado elitista e masculino, como o Itamaraty, a escolha de Maria Laura da Rocha para a Secretaria Geral, segunda na linha de comando da pasta, é muito importante. É a primeira vez que esse posto é ocupado por uma mulher. Maria Laura foi representante do Brasil na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e delegada permanente na ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura. Atualmente, é embaixadora a Romênia.