Foram 44 horas e 43 minutos de silêncio de Jair Bolsonaro (PL) desde que a Justiça Eleitoral declarou seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vencedor do pleito de domingo (30).
Para quê?
Para uma fala de dois minutos, na qual o presidente não reconheceu a derrota e, ao contrário, manteve a postura arrogante dos piores perdedores. Não esperava-se congratulações ao oponente Lula, mas, no mínimo, a sinalização explícita de que aceita as regras do jogo.
Ao contrário, Bolsonaro, como de costume, preferiu a névoa, em um discurso lido para não cair no improviso: cercado de ministros, para não aparecer sozinho, agradeceu aos 58 milhões de eleitores, saudou a consolidação da "direita", "robusta no Congresso", e repetiu que joga "dentro das quatro linhas da Constituição".
Da forma ambígua que lhe é peculiar, criticou a maneira como as pessoas estão protestando, impedindo o "direito de ir e vir", mas legitimou as manifestações ao dizer que há "injustiças" no processo eleitoral. Sem apontar que injustiças seriam essas, o presidente deixa aberta uma brecha para manter acesa a dúvida que lastreou a violência das últimas horas nas estradas.
A fala mais importante, definitiva, aquela que se esperava do comandante da nação em uma esquina fundamental da história do Brasil, foi delegada a outro funcionário, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Coube a ele declarar o início da transição de governo, na quinta-feira (3), que, em ato falho ou não, chamou Lula de presidente.
A Bolsonaro não cabia reconhecer o resultado das urnas, decisão de responsabilidade única do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), referendada nos últimos dois dias pela classe política, governadores, congressistas de todos os matizes e pela comunidade internacional. Mas, no ato número 1 do final do governo, o presidente perdeu a oportunidade de entrar para a História pela porta da frente.