De antemão, sou contra a realização de Copa do Mundo, Jogos Olimpícos ou grandes conferências mundiais, como a COP27, em países sob governos ditatoriais. Falo de Rússia, China e Egito. Ah, e claro, do Catar, uma das petromonarquias do Golfo Pérsico.
Porque, sobretudo, esses grandes eventos favorecem, como vitrine, os regimes no poder e silenciam as violações de direitos humanos que, por décadas, ocorrem nesses territórios.
A Copa da Rússia ocorreu há quatro anos, com flagrantes violações e o prenúncio, em 2018, do que viria em 24 de fevereiro de 2022: a agressão a uma país independente que é a Ucrânia. Hoje, a Rússia é pária internacional. Havia sinais naquela época de que uma catástrofe se anunciava, afinal, a invasão ocorrera apenas quatro anos depois da ocupação da Crimeia (2014).
O mesmo testemunhamos na Olimpíada de 2008. A China, sendo uma ditadura do Partido Comunista (PCC),realizou os Jogos, exibindo para holofotes internacionais sua porção positiva - escondendo as violações aos direitos humanos no Tibete, em Xinjiang e mais recentemente em Hong Kong.
Surpreende que, só agora, a comunidade internacional e alguns colegas, jornalistas, tenham acordado para as violações de direitos humanos em eventos esportivos internacionais - agora é complicado porque mulheres são assediadas em frente a estádios e bandeiras LGBTQ+ são apreendidas. Isso sempre ocorreu, sempre foi falado, mas poucos se sensibilizavam.
Na Rússia, havia o horror de assédio a mulheres, inclusive repórteres - e inclusive por brasileiros. Chama a atenção que só agora, no Catar, essas violações ganhem realmente manchetes internacionais.
Aqui vai um mea culpa - não precisávamos de China e Rússia para chegarmos à Península Arábica para ver o quanto mulheres são desrespeitadas.
O Catar, que realiza a Copa 2022, é uma ditadura - e, como Rússia e China (e Egito, com sua junta militar pós-Primavera Árabe) persegue a oposição e minorias, como gays. As manifestações políticas, desde o início dos Jogos, são uma forma de aproveitar um evento de entretenimento - como o futebol - para chamar a atenção para os aspectos políticos e sociais de determinado território. Aliás, não é de hoje que os gramados servem para aglutinar protestos contra o preconceito contra negros ou etnias.
Seleções mais politizadas - como a Alemanha, que perdeu para o Japão por 2 a 1 - deixaram seu recado contra a a realização de um torneio no Catar, ao posarem com as mãos na boca nas fotos. A Inglaterra se ajoelhou no "God Save the King" ("Deus salve o Rei") contra o racismo. Há outros protestos em defesa dos direitos humanos, sobretudo em se tratando de um Mundial nos países árabes, cujo respeito a mulheres e gays é exceção - do norte da África ao Golfo Pérsico.
Particularmente, eu não esperava um movimento nesse sentido - como, aliás, não veio - da Seleção Brasileira, que adota, ipsis literis, a cartilha da FIFA de não se manifestar politicamente, com medo de represálias - uma postura, que, a meu ver, é inodora, adequada, infelizmente, a nossos tempos, sobretudo no Brasil atual. Nossos atletas têm dificuldades em se expôr por medo de represálias ou perdas financeiras em ambiente de polarização.
Para muitos, houve redenção. Foi a primeira vez que a população, apropriada por partidos políticos, vestiram a camiseta verde-amarela em anos. Outros, preferiram, tímidos, a azul.
Alguns, como Neymar, abriram o voto ao presidente Jair Bolsonaro. Outros, como Richarlison, estrela da estreia, se manifestaram por causas bem mais relevantes da sociedade, como os temas os ambientais e os antirracismo.
Por atos ou omissões, vivemos para vislumbrar suas atitudes muito além das quatro linhas.