Mudam as querelas. Mas a estratégia é a mesma: criar confusão, tumultuar o processo eleitoral, colocar-se como vítima.
Essa foi a tática de Donald Trump na tentativa de reeleição nos Estados Unidos em 2020. Esse é o modus operandi do candidato e presidente Jair Bolsonaro no Brasil em 2022.
O ato número 1 de ambos foram semelhantes: questionar o sistema eleitoral, exigindo comprovante impresso do voto. Nem lá nem aqui deu certo.
Então, passa-se ao ato número 2. Nos Estados Unidos, a poucos dias do pleito, Trump recrutou um exército de advogados liderados por Rudolph Giuliani para entrar com ações judiciais onde os resultados das urnas fossem apertados, alegando fraudes.
Com os recursos do Partido Republicano caindo, um a um, nas cortes estaduais, a tática passou a ser intimidar autoridades e tornar aliados cúmplices em sua tentativa de contrariar a vontade dos eleitores. O caso mais emblemático foi na Geórgia, onde Trump, em um telefonema aos berros, que já se tornou quase tão conhecido quanto as provas de Watergate, ameaçou uma alta autoridade da legenda para que encontrasse votos para reverter a vitória de Joe Biden no Estado.
Sem conseguir, o presidente então partiu para a marcha sobre Washington, para tentar interromper o esforço de certificação eleitoral com base em mentiras e desinformação segundo as quais as eleições (de novo!) haviam sido fraudadas. Tudo acompanhado do slogan "stop the steal" ("parem o roubo"), que, para o bem da democracia americana, teve curto período de vida.
No caso brasileiro, a querela dos dias finais da eleição, que, infelizmente, segue o roteiro americano, é a suposta sabotagem nas inserções da propaganda de rádio no Nordeste, região que só não pode ser comparada à Geórgia, porque, por lá, a disputa está longe de ser acirrada entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. A fábrica de confusões bolsonarista conseguiu congestionar o ambiente, trazendo à tona a surrada acusação de parcialidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O anúncio de Bolsonaro de que irá recorrer "até as últimas consequências dentro das quatro linhas" da decisão do presidente da Corte, Alexandre de Moraes, que negou pedido da campanha do PL para investigar as inserções das peças eleitorais em rádios, é prenúncio de que estamos apenas no ato número 2 desse monólogo verde-amarelo. Se Bolsonaro perder a eleição, virão outros até 1º de janeiro. Nos Estados Unidos, Trump, derrotado em 3 de novembro de 2020, esticou a corda até 6 de janeiro de 2021, dia da invasão do Capitólio. Por fim, fecharam-se as cortinas. Não sem traumas.