Entre os dias 9 e 10 de dezembro, o presidente Joe Biden irá comandar a chamada Cúpula da Democracia, o segundo grande evento da nova administração americana - o primeiro foi a Cúpula do Clima, realizada em abril.
A exemplo da primeira, o evento será virtual. A lista de convidados, que vazou para o site Politico, dá uma boa ideia do que os Estados Unidos em geral - e o governo Biden em particular - entendem por democracia.
As presenças e ausências da lista (veja aqui) falam muito. Por exemplo, Biden deve chamar para o encontro a Polônia, país governado pela ultradireita e que é alvo de procedimentos legais por parte da União Europeia (UE) por violação de direitos humanos, igualdade, liberdade de expressão e da dignidade humana. A Hungria, de Victor Orbán, também passa por processo semelhante. E essa foi excluída do evento até o momento.
Outra presença questionável é do Iraque, país que, pelos parâmetros da Freedom House, é considerado "não livre". O mesmo ocorre com as Filipinas, do presidente Rodrigo Duterte, um líder autoritário, acusado de empreender uma guerra às drogas à margem do Estado democrático de Direito e de perseguição da imprensa. No ranking da Freedom House, as Filipinas são consideradas "parcialmente livre".
A Índia, país definido como "parcialmente livre" pela organização, também está na lista, embora o primeiro-ministro Narendra Modi esteja conduzindo a maior democracia do planeta a um retrocesso de direitos civis.
O Brasil, apesar das restrições que Biden e seu partido têm em caracterizar o presidente Jair Bolsonaro como democrata, também foi convidado.
Na América Latina e Caribe, estão ausentes, como era de se esperar, Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Cuba.
Em termos gerais, a ausência da Turquia (integrante da Organização do Tratado do Atlântico Norte, Otan), embora questionável se Polônia e Filipinas estão na lista, pode ser entendida como um recado ao presidente Recep Erdogan, que, além de estar caminhando a passos largos rumo a uma autocracia, tem se aproximado nos últimos anos da Rússia.
2021 tem sido um ano crítico para a democracia no mundo. Foram seis tentativas de golpes de Estado: Sudão, Mali, Guiné-Conacri e Chade, Níger e Mianmar (este último, o único fora da África). Trata-se de "uma verdadeira epidemia putschista", nas palavras do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Seis tentativas (a maioria delas bem-sucedidas) contrasta com a tendência dos últimos 20 anos, segundo uma pesquisa realizada pelas Universidades da Flórida e do Kentucky, que contabilizaram uma média de 1,5 golpe entre 2001 e 2019.
Durante o encontro, no qual cada líder terá alguns minutos para falar por meio de vídeo (a exemplo da Cúpula do Clima), Biden espera que os países assumam compromissos como o aumento de fundos para programas de educação para a mídia e a aprovação de controles de exportação para tecnologias de "duplo uso" - ou seja para fins civis e militares.
A questão tecnológica estará muito presidente. Um outro documento sobre o evento, obtido pelo site Politico, revela que os Estados Unidos esperam "combater o surgimento de uma visão alternativa da internet como ferramenta de controle estatal promovida por poderes autoritários como a China e a Rússia". Os princípios fundamentais da aliança incluiriam compromisso coletivo para desenvolver e implementar altos padrões para privacidade de dados, segurança de dados e segurança cibernética.
Grupos da sociedade civil têm criticado o fato de estarem relegadas à margem das discussões.