Mais de 50 anos depois do desaparecimento do militante de esquerda brasileiro Edmur Pericles Camargo durante a ditadura militar, seu caso será alvo de uma denúncia como parte da Operação Condor perante a Justiça na Argentina.
Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), e o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel irão apresentar a acusação nesta quinta-feira (18) a um tribunal de Lomas de Zamora, pedindo investigação por crime de lesa-humanidade.
O militante, integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), desapareceu em 16 de junho 1971, depois que agentes da polícia federal argentina o prenderam dentro do avião recém-chegado ao aeroporto de Ezeiza, nos arredores de Buenos Aires.
Camargo, conhecido como "Gauchão" (embora tivesse nascido em São Paulo), havia tempos era observado pelos serviços de inteligência das ditaduras do Cone Sul, que trabalhavam de forma articulada no chamado Plano Condor para perseguir e matar opositores. Ele chegava de Santiago, no Chile, no voo 317 da Lan Chile, à época uma companhia aérea estatal. Camargo foi detido sem ordem judicial, e levado ao Aeroparque, o outro aeroporto da capital argentina. Em 17 de junho, ele foi deslocado, conforme a acusação, em uma avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para a base aérea do Galeão, no Rio de Janeiro. Nunca mais se teve notícias de seu paradeiro.
Krischke explica que a acusação está documentada pelo MJDH, com o apoio da Comissão Provincial pela Memória, presidida por Pérez Esquivel.
Antes de sua detenção na Argentina e desaparecimento, Camargo havia sido preso político no Brasil. Ele fora trocado, junto com outros 69 opositores, pela libertação do embaixador suíço no Brasil, Giovanni Enrico Bucher, sequestrado por um grupo guerrilheiro sob o comando de Carlos Lamarca. Na ocasião, fugira para o Chile, que era governado à época pelo presidente socialista Salvador Allende. Em 11 de setembro de 1973, também o Chile se tornaria uma ditadura com a tomada do poder por Augusto Pinochet.