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A eleição do banqueiro Guillermo Lasso como novo presidente do Equador significa muito mais o voto anti-Rafael Correa (representado pelo seu herdeiro político, Andrés Arauz) do que um triunfo propriamente dito do candidato liberal. Foi um "não" a um retorno do país ao bolivarianismo, ideologia criada pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez e que angariou adeptos pela América Latina nas primeiras décadas do século 21, entre eles Correa.
Por onde o bolivarianismo passou semeou polarização. É assim na própria Venezuela de Nicolás Maduro ainda hoje. Foi assim na Bolívia de Evo Morales e no Equador. O ódio pelo adversário, sintoma de sociedades fraturadas, invadiu a campanha que se encerrou com o pleito do domingo (11).
Com a derrota de seu herdeiro, Correa, que governou por 10 anos o país (2007-2017), praticamente vê findar sua carreira política. Uma vitória de Arauz poderia criar um clima político para a revisão das condenações que pesam sobre o ex-presidente por propina em troca de obras do Estado concedidas a empreiteiras brasileiras. Sem poder voltar ao Equador, "para se vingar dos traidores", como dizia, Correa deve ficar morando na Bélgica.
A derrota da esquerda também demonstra que os equatorianos estão querendo apagar a influência de Correa na política. Lasso é o primeiro presidente eleito em 14 anos sem relação com o ex-presidente. Lenín Moreno, o atual, foi vice de Correa (2007 a 2013) e só ganhou em 2017 graças ao padrinho político com o qual rompeu pouco mais de cem dias depois de assumir o poder.

Lasso assumirá um país sob forte crise econômica e sanitária. Os preços baixos do petróleo, do qual o país é exportador e dependente economicamente, e a pandemia levaram o PIB a retroceder 7,8% em 2020. A covid-19 jogou um terço da população na pobreza.