A fuga do ex-CEO da Nissan Carlos Ghosn é um dos principais assuntos internacionais desse 2020 que se inicia. O ex-executivo nascido em Porto Velho (Rondônia) estava sob prisão domiciliar no Japão, onde é acusado de quatro crimes financeiros. Ele deixou o país, em uma operação com toques misteriosos, com rumores de que teria saído escondido dentro de malas para transporte de equipamentos musicais (algo que sua família nega). A seguir, o que se sabe sobre o caso até agora.
1 – Como o empresário fugiu do Japão?
O Japão tem uma das polícias mais bem preparadas do mundo. As autoridades de migração também são extremamente rigorosas.
O fato de Ghosn ter ludibriado esse aparato tecnológico e humano torna sua fuga espetacular – e, obviamente, dá margem a versões fantasiosas. A primeira delas já foi desmentida pela mulher do empresário, Carole. Ela negou que o marido tenha fugido escondido dentro de uma caixa de instrumentos musicais, como se informou inicialmente.
O que sabe é que Ghosn teria usado um jato particular que decolou do aeroporto de Osaka, no oeste do Japão, em 29 de dezembro, às 23h. O avião pousou no aeroporto de Atatürk, em Istambul. Duas curiosidades: o terminal, o maior da Turquia, estava fechado para voos comerciais no momento da aterrissagem e não há registro de saída do empresário nos documentos de migração no Japão. Sete pessoas na Turquia foram presas sob suspeita de terem ajudado na fuga – entre elas, os quatro pilotos do jato usado pelo ex-executivo.
A fuga foi planejada durante meses — pelo menos, desde outubro — e contou com a organização de uma equipe de profissionais de segurança privados, que atuaram em diferentes países.
2 – Como ele entrou no Líbano?
Ghosn tem cidadania brasileira, francesa e libanesa – ele morou no Líbano durante a juventude. Isso facilitou sua entrada no país. Ghosn passou pela migração com identidade do país. Ainda assim, há indícios de que tenha usado sua influência política para garantir entrada sem incidentes: na segunda-feira (30), ao desembarcar, teria se encontrado com o presidente libanês, Michel Aoun. Assessores da presidência negam o encontro. Mas é conhecida a relação entre o empresário e as autoridades libanesas – o embaixador do Líbano no Japão, por exemplo, costumava visitar Ghosn em sua residência com frequência. O governo libanês afirmou que há meses pedia ao governo japonês que enviasse Ghosn – que tem cidadania libanesa – a Beirute. O país propôs que ele fosse julgado por seus crimes em Beirute.
3 – Que acusações pesam contra o empresário?
São quatro. Todas relacionadas a crimes financeiros. Entre 2010 e 2015, ele não teria declarado parte da renda de R$ 334 milhões às autoridades fiscais. Teria ocultado R$ 167,4 milhões do imposto de renda. Também teria usado indevidamente bens da Nissan, uma das empresas para a qual trabalhou (as outras são a Renault e a aliança Renault-Nissan-Mitsubishi. Também teria repassado aos cofres da Nissan dívida particular de US$ 16 milhões. E ainda teria provocado prejuízo de US$ 5 milhões para a montadora em transferência para um fundo em Omã, país do Golfo Pérsico.
4 – Ele pode ser extraditado para o Japão?
Diretamente, não. A Interpol (polícia internacional) emitiu uma ordem para que as autoridades libanesas prendam Ghosn. Mas dificilmente isso deve ocorrer uma vez que a Justiça do país afirma que ele entrou legalmente no Líbano: segundo a Direção Geral de Segurança do Líbano, nenhuma medida impunha "a adoção de procedimentos contra ele" e que nada "o expõe a uma ação legal". O país também não tem acordo de extradição com o Japão. A França, país que Ghosn também tem cidadania, já afirmou que, se ele se mudar para a nação europeia, o empresário não será extraditado. A França não extradita seus cidadãos.
5 – O que o Japão pode fazer?
Pouco, a não ser pedir ao Líbano a extradição de Ghosn– que será negada pelo Líbano – e investigar como o ex-CEO fugiu. Nesta quinta-feira (2), o imóvel onde Ghosn morava em Tóquio foi alvo de operação policial. A Justiça revogou a libertação de Ghosn sob fiança, que estava em vigor desde que ele havia sido solto pela segunda vez, em 25 de abril de 2019.