Não se pode dizer que Benjamin Netanyahu está derrotado. Bibi (pronuncia-se "Bíbi"), como é conhecido em Israel, é um animal político: está há 10 anos como primeiro-ministro de Israel — 13 anos circundando o poder, se contarmos o tempo em que está à frente do Likud. Ele conhece como poucos os meandros da Knesset, o parlamento israelense, domina com maestria a arte da comunicação direta com o público, tem retórica exemplar, e sabe usá-la como nenhum outro político israelense a seu favor.
O campo internacional é outro no qual Bibi circula com facilidade: costuma utilizar a política externa para salvar a doméstica quando está ameaçado. Em abril, na primeira eleição, tentou surfar na visita do aliado, o presidente Jair Bolsonaro, para angariar popularidade dos setores religiosos. Neste segundo pleito, com o apoio popular e o poder escorrendo pelos dedos, prestes a ser indiciado por corrupção, ele apelou ao medo, um discurso que normalmente funciona em Israel, país permanentemente ameaçado por seus inimigos regionais: prometeu que, se voltasse à chefia de governo, anexaria o Vale do Jordão, ampliando o colchão de proteção em relação ao convulsionado mundo árabe.
Ao que parece, não deu certo. Seu partido, o Likud conseguiu apenas 31 cadeiras no parlamento – eram necessárias 61 para governar sozinho. Pior: a aliança rival, Azul e Branco, de Benny Gantz, ficou com dois assentos a mais, 33. É uma vantagem minúscula, mas dá a Gantz preferência na cabeça do presidente israelense, Reuven Rivlin, para que seja ele, e não Bibi, a formar o gabinete.
Embora a formação de um governo de união nacional, com o Likud, de direita, e o Azul e Branco, de centro – alternando-se os líderes dos partidos como primeiros-ministros a cada dois anos –, seja a saída mais racional para não se prolongar o impasse, há um componente que emperra tudo: o apego de Netanyahu ao poder. Gantz disse que não aceitará um governo de coalizão com o Likud, se Bibi continuar à frente da legenda.
Netanyahu é reconhecido em Israel como alguém que defendeu o país ao longo desses 10 anos como um Merkava, o famoso tanque de guerra israelense. Sua campanha foi centrada na ideia de que, sem ele, o país perderia representatividade internacional, coesão política e teria sua segurança ameaçada. Mas, além das denúncias de corrupção, pesam contra ele o desgaste natural do tempo no poder. Muitos setores esperam a oxigenação da política.
É, sem dúvida, o pior momento da vida política de Netanyahu, que pode ser indiciado na semana que vem. Ele inclusive cancelou a ida a Nova York para participar da Assembleia Geral das Nações Unidas, fórum internacional no qual circula com facilidade e orgulho. Ficará em Israel.
O que acontece agora? Pela lei eleitoral, há 30 dias para negociações para formação do governo. Caso não haja acordo, pode haver novas eleições — as terceiras este ano. Mas a aposta é de que isso geraria uma instabilidade ainda maior no país. É uma negociação complexa e delicada: há tantos partidos políticos que representam interesses divergentes em uma Knesset formada por apenas 120 deputados que qualquer grupo político, a essa altura, pode fazer a diferença.
Daí a importância da terceira força política de Israel, Israel Nossa Casa, partido ultranacionalista (mas não religioso), que está sendo cortejado tanto pelo Likud, de Bibi, quanto pela Azul e Branco, de Gantz. Quem atrair os oito deputados da legenda de Avigdor Lieberman, ex-chefe de Gabinete de Netanyahu, chega com uma base maior para seduzir os demais.