Há exatos dois anos, desembarquei em Paris para cobrir a série de atentados que marcaria um novo ponto de inflexão da ameaça terrorista no século 21. Se o 11 de Setembro americano mudara a maneira como viajamos de avião, o 13 de Novembro francês alteraria nossas rotinas comezinhas — poderíamos estar em um show em uma casa de espetáculos ou simplesmente sentados em um restaurante ou caminhando por uma feira de Natal para nos tornarmos vítimas fortuitas de extremistas.
Para melhor retratar o estupor da capital francesa atingida em seu modo de vida, busquei naquele dia refazer o trajeto dos terroristas, do Stade de France, onde tudo começara, passando pela casa de espetáculos Bataclan, até os cafés dos arredores da Praça da República. Imaginava percorrer, na cidade turística, um roteiro que, infelizmente, somaria novos cartões postais, a partir dali, manchados de sangue.
Não sabíamos que era só o começo. Ainda que, 10 meses antes, o jornal satírico Charlie Hebdo tenha sido alvo de um ataque, naquele 13 de novembro de 2015 o medo capilarizava-se entre os europeus. De lá para cá, viriam Nice, Munique, Berlim, Bruxelas, Londres, Manchester e Barcelona, para ficarmos nos mais conhecidos ataques terroristas que atingiram as cidades desde Paris. Mais de 300 mortos no total em dois anos. Em comum, o novo modus operandi barato do terror: esfaquear vítimas e atropelar pedestres com caminhonetes ou caminhões. Não sabíamos, mas o que houve em Paris naquele novembro mudaria para sempre a relação da Europa com o terrorismo. O extremismo não só transbordara das fronteiras do Oriente Médio como também germinava nas vísceras do continente. E chegava para ficar.
