Poucas horas depois dos atentados em Paris, em novembro passado, afirmei que os ataques ao Bataclán e a outros pontos da capital francesa eram um ato desesperado do Estado Islâmico (EI), cada vez mais acovardado por bombardeios dos Estados Unidos e pela perda de território do seu chamado califado. Continuo acreditando que o grupo extremista está acuado, principalmente no Iraque. A ação em Paris, seguida de outras operações maiores ou menores mundo afora – a culminar nos ataques coordenados desta terça-feira –, nos leva, entretanto, a pensar que os jihadistas mudaram seu front de batalha.
Ampliaram sua área de atuação. Expandiram suas operações para um front invisível, mais sensível, vulnerável e midiático: as capitais da Europa. Ironicamente, o tamanho do "califado" que o Estado Islâmico diz controlar, entre a Síria e o Iraque, é equivalente ao território da Bélgica.
Mas, se lá no Oriente Médio os jihadistas estão perdendo espaço em terra, o jeito foi transferir para o continente europeu seu campo de batalha. O EI teria perdido 14% do território que controlava. Isso só no ano passado, segundo site especializado em segurança HIS.
Desde que anunciou seu "califado", em junho de 2014, a organização extremista teria realizado 75 atentados em 20 países – excetuando-se Síria e Iraque. Essas ações mataram 1.280 pessoas e feriram outras 1.770, como mostra levantamento da rede CNN (veja aqui). São atos do próprio EI, reivindicados pelo comando central, mas também ações isoladas, de pessoas ou grupos filiados à ideologia jihadista.
O que impressiona – e nos impõe o medo – desta vez é a rapidez da reação do EI. Os atentados de terça-feira ocorreram quatro dias após a prisão de Salah Abdeslam, um terrorista conhecido da comunidade de Molenbeek, ninho de terroristas de Bruxelas, mas também figura carimbada nas telas dos serviços secretos europeus há bastante tempo.
Durante quatro meses, ele, que teria sido peça fundamental dos atentados em Paris, brincou de gato e rato com as polícias da Franças e da Bélgica. Tão logo foi preso, na sexta-feira, aparentemente, o EI deu ordem para que células revidassem. Os atos desta terça foram de vingança. Quando digo que membros terroristas foram convocados para ação em curto período de tempo, quero dizer que estes foram chamados a explodir a si mesmos.
Desde os atentados em Paris, sabia-se que o EI estava gestando um novo atentado na Europa. Mas a Bélgica não era seu alvo primordial. A prisão de Abdeslam selou o destino de Bruxelas. A ação terrorista foi antecipada. Os atentados de terça mostram que os serviços de inteligência europeus estão engatinhando. A coleta de informações não é tão rápida quanto a capacidade de mobilização do EI. O próprio governo belga se deu conta disso a ponto de conclamar os demais países da União Europeia a compartilharem informações sobre ameaças terroristas. De forma urgente.