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Alessandro Barcellos e seu grupo decidiram mudar. Dispensaram Abel Braga e trouxeram Miguel Ángel Ramírez. Com isto, o Inter daria um passo importante rumo ao futuro, trocando gestões de futebol reativas por gestões propositivas. O clube deixaria de imitar retrancas para ir para dentro dos adversários.
Na prática, nada disto aconteceu. O Inter que ataca leva dois gols do Sport, cinco do Fortaleza, três do Vitória. A dura realidade mostra que não consegue atacar bem e torna-se uma calamidade defensiva.
Fui buscar no meu "guru" em administração de empresas, o consultor Silvio Teitelbaum, explicações mais próximas sobre o projeto que o Inter buscou com estas modificações. Dele, recebi a seguinte lição — para os administradores e consultores, parecem óbvias: para se mudar radicalmente uma gestão, são necessários três pré-requisitos:
1) Escopo
2) Tempo
3) Recursos
Por escopo, entenda-se o que se quer fazer e atingir. Isto está claro. Um time ofensivo, revolucionário.
Por tempo, seriam muitas horas de treinamento. Só esqueceram de olhar o calendário de jogos quartas e domingos e as viagens. Não existe tempo para treinar, muito menos paciência dos torcedores para aguardar resultados positivos. Não ganhar Gre-Nais, Gauchão, ser eliminado na Copa do Brasil, sofrer goleadas, tudo isto remete a um combo que faz as pessoas perderem a paciência com o trabalho.
Recursos: com o clube endividado brutalmente, os dirigentes colorados não têm recursos para entregar ao treinador jogadores com as características para colocar o time naquilo que ele pensa. Leva gols por atacado e não consegue-se atacar com qualidade — ou seja, nada funciona.
Das três necessidades administrativas, o Inter só tem uma: a vontade de mudar. Faltam as outras, indispensáveis ferramentas. Eu acrescentaria dizendo que, além de jovens, os homens do futebol colorado vieram de segunda divisão.
Miguel Ángel Ramírez treinou o campeão da segunda divisão da América, que é a Copa Sul-Americana. Paulo Bracks veio do América-MG, na Série B. O preparador físico trabalhava no Tenerife, da segunda divisão espanhola. São profissionais que devem ter muita qualidade, mas que não entenderam a grandeza do Inter e suas necessidades.
E ainda tem a depressão de alguns jogadores, num grupo cujo perfil parece não ser ganhador. São coisas importantes para serem avaliadas pelos dirigentes colorados para propor modificações.