Crônica publicada em 10/05/2001
Não pode mais o coração viver assim desesperado.
Não pode mais o coração restar assim dilacerado.
Não deve mais o coração pulsar assim descompassado.
Nem deve mais o coração gritar depois abandonado.
Não pode mais a ilusão cair de novo ludibriada.
Nem pode mais a ilusão se ver mais uma vez desanimada.
Não suporta mais a tentação, de ser feliz, ser outra vez desperdiçada.
Nem deve mais a tentação, essa aprendiz, tocar na dor despedaçada.
Deixem-se estar quieta e calmo a alma e o coração, que de sofrer já estão sobrados.
E nem se agitem mais a alma e o coração com o aceno de míseros trocados.
Respeitem enfim a alma e o coração, que de ir morrendo aos poucos já estão quase inanimados.
Que ninguém se atreva a acenar com a alegria, que esta melancolia perpétua não permite mais que ela viceje.
E não me venham mais com a lorota da ventura, que se algum fiapo de saúde ainda me resta é absolutamente certo que me vem desta tristeza.
É completamente indispensável que passem todos ao largo desta minha desolação, se possível só com alguma reverência, brotada na compaixão, respeitando este período longo e arrastado do meu fim.
Que pelo menos permitam que uma paz aliviada ronde de longe este crepúsculo estremunhado.
Não pode mais o coração, não deve mais o coração deixar-se atrair pelas vãs promessas de que vão emergi-lo desta brutal mas até que assim finalmente bem-vinda solidão.
Não pode mais a solidão ser outra vez transfigurada.
A solidão é a única parceira fiel e autenticada.
Não pode mais o coração ceder a outra empreitada.
Não soe mais o cantochão das ofertas malogradas.
Nada mais há que anime a alma e o coração.
Cumpre apenas que repousem na exígua paz final que quem sabe pode ainda sobrevir a todas as ânsias malbaratadas.
Deixem agora a alma e o coração velarem-se na luz quebradiça do desânimo, último direito dos intentos fracassados.
Não pode mais o coração correr atrás do séquito de esperanças infundadas.
O que só agora pode o coração é lamentar os inúteis sonhos desvairados.
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